Conheça um dos trabalhos de Almir Carlos Jimênez de Souza Valente!
Nascido no Rio de Janeiro, escreve desde seus 12 anos de idade. Atua no ramo da ficção científica ao qual gosta e tem afinidade.
Escreveu sua série Universo em Expansão, e promete-nos ainda muitas aventuras.
Boa leitura!
Um Encontro Incomum
I
Um Encontro Incomum
I
Assim que entramos no hotel, fiquei surpreso com o contraste que o exterior antiquado fazia com o interior futurístico.
Aquele planeta realmente era um mundo bastante contraditório.
Desde
que pousáramos ali, algumas horas antes, não cansava de me abismar com
as diferenças que as ruas apresentavam, mendigos e carros de luxo,
trafegando nas mesmas vias, uns quase passando sobre os outros, como se
fosse a coisa mais comum. Monumentos riquíssimos e favelas lado a lado,
luxo e miséria no mesmo endereço.
O
hangar, em que havíamos deixado o cruzador estelar ficava há poucos
minutos do hotel e fomos a pé até ele, depois de desembaraçarmos nossas
malas da alfândega planetária; mas foi o suficiente para constatarmos
aquela dura realidade.
Enquanto
pensava em tudo isso, minha parceira encaminhou-se até a recepção, para
tratar de toda a burocracia referente à nosso registro. Eu, como
novato, recém chegado da Terra, não conhecia tão bem tudo aquilo quanto
Arina, que já estava acostumada com aquelas viagens estelares. Fiquei
observando o local, entretido com a quantidade de seres exóticos que
circulavam por ali. Minha atenção, porém foi aguçada por uma jovem de
pele azulada, que sentada à uma mesa, no luxuoso bar, olhava-me
insistentemente com seus grandes olhos verdes.
Era
uma garota charmosa; cabelos negros encaracolados, contrastavam com o
azul claro de sua pele, seus lábios estavam recobertos por um batom
bordô, que acentuava a boca carnuda. Ela ergueu-se e aproximou-se
lentamente, enquanto observava-lhe as formas exuberantes, seios fartos,
uma cintura fina e quadris estreitos que o vestido de um vermelho
cintilante realçava ainda mais. Ela passou por mim, mantendo seus olhos
verdes sobre minha pessoa, enquanto fechava os lábios num ensaio de
beijo.
Assim, olhando para trás, ela sumiu por entre as pessoas do corredor.
Sem
que eu pudesse evitar, fiquei a fitá-la até sumir, enquanto minha
parceira, Arina, aproximava-se com a placa-chave do quarto em suas mãos.
— Tudo bem, Airam? — indagou ela, assim que chegou-se a mim.
—
Tudo. Tudo! — observei-a, seus cabelos loiros encaracolados,
adornavam-lhe a face rosada, enfeitada por aqueles olhos cor de
esmeralda, que pareciam faiscar devido ao brilho do por do sol que
entrava pelas amplas janelas, que enfeitavam o saguão do hotel.
—
Vamos, consegui dois quartos. — ela pegou sua mala, que eu segurava,
enquanto o “carregador”, uma criatura humanoide, mas com traços
genéticos de algum tipo de roedor, talvez um coelho, apanhava o resto da
bagagem que trazíamos.
Seguimos
a estranha criatura até o elevador, envidraçado e, enquanto subíamos,
pude avistar, lá no saguão a jovem de pele azulada, que tanto me
impressionara, e que acompanhava nossa subida atentamente.
Horas
mais tarde, a noite já havia caído sobre aquele hemisfério de Ganabion,
e o céu estrelado ostentava duas formosas luas, cuja luz clareava a
cidade e o deserto árido mais ao norte.
Da
janela de meu quarto eu observava a tudo aquilo, enquanto,
elegantemente vestido, aguardava por minha parceira, para subirmos ao
restaurante terraço que ficava no último andar do luxuoso hotel.
Aquelas
férias realmente tinham vindo a calhar, depois da dura missão que
enfrentáramos, dias atrás; precisava daquele descanso. Eu, um terráqueo
não acostumado com toda aquela loucura estelar, sentia-me como num conto
de fadas, principalmente por ter conhecido Arina, ela era uma garota
especial e, ter enfrentado todos aqueles riscos e perigos, ao lado dela,
tinha criado laços entre nós, laços que precisávamos definir melhor.
O
“anunciador” tocou forte, indicando que minha parceira chegara.
Aproximei-me da porta e com um simples digitar de botões, fiz a mesma
abrir-se.
Arina
estava linda, um vestido de cor verde musgo, bem justo, porém longo,
adornava-lhe o corpo bem torneado e insinuante. Ela passou por mim,
revelando um generoso decote que saía de seus ombros até a cintura,
deixando-lhe as costas praticamente nuas, e deu um giro rápido, exibindo
sua roupa de gala.
— Que tal estou? — indagou, com um sorriso, na boca vermelha de batom.
— Linda. — disse, ainda um pouco admirado devido a tanta formosura — Está pronta? Podemos ir?
— Claro. — ela ofereceu-me seu braço, que enlacei gentilmente.
Subimos
até o restaurante, muitíssimo bem decorado, onde pessoas, de vários
planetas e gêneros, jantavam elegantemente. Adentramos o salão, e
imediatamente o maitre aproximou-se oferecendo-nos uma mesa. Solicitamos
que o local fosse no terraço aberto, onde o frescor da noite tornava-o
agradável, um lugar raro naquele planeta quente.
Tomamos
lugar numa mesa redonda, bonita e muito bem enfeitada. Arina sentou-se
primeiro, enquanto eu arrumava-lhe a cadeira educadamente.
— Está gostando? — indagou ela, tão logo sentei-me à sua frente.
— Muito, o lugar é lindo! — completei, olhando ao redor.
—
Desde que a guerra intergalática entre a galáxia de Taurius e a nossa,
de Âmbion, teve início, este lugar tem sido meu refúgio. — segredou ela —
Sempre que tenho uma oportunidade, venho para cá para ter alguns
momentos de paz.
— Você já combateu muito?
— Sim, o suficiente para estar cansada de ver tantas mortes. — seus olhos entristeceram-se e baixou-os em direção à mesa.
— Desculpe, não queria entristecê-la.
—
Tudo bem Airam. Essa é uma conversa que procuro evitar quando estou de
folga. E você, como se sente, tão distante de seu mundo?
—
Às vezes confuso. Desde que você foi me buscar, aquela noite, lá na
Terra, dizendo que havia sido escolhido para representar meu mundo nessa
força intergalática especial, eu tenho vivido um sonho, como se meus
dias e noites fossem uma montanha russa que não sei nunca como começa e
quando vai terminar.
—
Te entendo! — ela olhou-me, seus olhos verdes pareciam faiscar — Eu
também me sinto assim as vezes. E olha que, pra mim, toda essa
tecnologia não é novidade.
Arina
voltou seu olhar para o terraço, enquanto um vento fresco fazia seus
cabelos esvoaçarem de forma maravilhosa. Olhei-a, realmente ela era uma
garota divina, nunca imaginara que, algum dia, estaria metido numa
espécie de confusão intergalática e ainda tão bem acompanhado. Estar ali
era algo fantástico e, apesar de tudo o que havíamos passado juntos,
ainda não tinha certeza do que ela sentia por mim. Hora ou outra parecia
se interessar além do normal por minha pessoa e outras parecia ser tão
fria, tão profissional...
Enquanto
estava perdido em minhas divagações, não percebi que a jovem que
encontrara na recepção do hotel mais cedo, havia entrado no recinto e
sentara-se numa mesa próxima a nossa, de uma posição que podia
observar-nos com facilidade. Ela retocou o batom, olhando-se numa
espécie de espelho, só que formado por luzes azuladas, que refletiam-lhe
a face delicada, saindo de um pequeno aparelho prateado.
O
jantar foi servido, conforme as orientações que Arina passara ao
garçom. Eram pratos exóticos, diferentes dos que estava acostumado, e
Arina orientava-me de como me servir daquela comida alienígena, porém de
sabor agradável. Para acompanhar, um drink de cor azulada e sabor
efervescente havia sido servido.
Enquanto
jantávamos, nossa observadora apenas tomava um drink, após ter sido
indagada pelo garçom sobre o que gostaria de pedir. Ela observava-nos
insistentemente e, após minutos assim, pediu um papel ao garçom e
escreveu rapidamente um bilhete, que pediu que me fosse entregue.
Em silêncio, o garçom, um ser meio lesma, semelhante aos escargots, aproximou-se, passando-me o bilhete em frente a Arina.
— Da senhorita. — disse ele, entregando-me o papel.
Olhei em direção à ela, que ergueu sua taça em sinal de brinde.
— Arranjou uma admiradora. — retrucou Arina, olhando-a também.
—
Parece que sim. — olhei para o papel, não entendia nada daquela grafia
alienígena e olhei para Arina, entregando-lhe o bilhete — Importa-se?
— Claro que não. — disse ela, apanhando o pequeno papel — Pena que o tradutor não sirva também para escrita. — brincou.
—
Verdade. — balbuciei, enquanto olhava para nossa observadora e passava a
mão no pequeno medalhão, que em volta do meu pescoço, servia de
tradutor universal para sons.
—
Bom, aqui diz: “Gostaria de conhecê-lo melhor. Você corre perigo!
Espero-o após às 34 horas no saguão do hotel.”. Que tal? Ela não nega a
origem!
— O que disse?
—
Ela é uma Tiruana. As mulheres tiruanas são assim, audaciosas e
oferecidas. Estão acostumadas a conquistar os homens, que não resistem a
suas qualidades.
— Como assim? Que qualidades?
— Se estou certa, vai descobrir, muito em breve. — retrucou ela com uma ponta de ciúme na voz.
— Espere um pouco... não acha que eu?
— Airam, não te culpo de estar curioso. Afinal ela é bonita, atraente e alieniginamente excitante.
— Certo, mas por enquanto, vamos esquecê-la. Fingir que não está aqui.
— É difícil. — Arina olhou para a jovem tiruana, que mesmo assim insistia em fitar-nos — Ela é insistente.
O
jantar terminou e assim que a conta havia sido paga, deixamos o local,
enquanto nossa observadora, sorria de forma maliciosa.
II
Horas
mais tarde, após ter deixado Arina em seu quarto, estava observando a
vista, da ampla janela de meu quarto, quando o anunciador sou forte e
estridente. Imaginei quem seria, pois não esperava ninguém; aproximei-me
da porta, após apanhar meu roupão, pois já estava de pijama.
Acionei um botão, logo abaixo de um pequeno monitor e a imagem externa apresentou-se, era a jovem tiruana.
—
O que deseja? — indaguei, enquanto pensava o quanto ela era insistente.
Se queria ter algo com Arina, devia evitar maiores problemas e aquela
garota era problema.
— Apenas falar. Pode abrir, eu não mordo. — disse ela, através do comunicador.
Abri a porta e ela imediatamente insinuou-se para dentro.
— Feche a porta, não é seguro! — disse, acionando a trava da porta.
— Tudo bem, mas explique-me uma coisa: o que quer e quem é afinal?
—
Eu sou Merina. Sou de Tiruan. — ela adentrou a antessala, observando a
tudo com ar curioso — É um prazer conhecê-lo, terráqueo.
— Espere, como sabe que sou terráqueo? — indaguei, surpreso.
—
Pelo seu cheiro. — ela sentou-se na cama e arrumou os cabelos,
revelando orelhas pontiagudas — Os humanos da Terra tem um cheiro
deliciosamente inconfundível.
— E o que era toda aquela história de perigo e tudo mais?
— Realmente, você corre perigo... Mas... O perigo sou eu! — ela sorriu e piscou maliciosamente.
— Imagino. — concordei, virando-me em direção à janela.
— Não, não imagina. — ela ergueu-se e aproximou-se, passando a mão em meus ombros — Não tem algo para tomarmos?
— Bem que Arina disse que vocês eram, como direi... Arrojadas!
—
Então sua amiguinha falou isso de mim? Um comentário comum para uma
antariana. Ela sabe que nossa raça é muito mais “interessante” que a
dela!
— Opinião interessante.
—
Afinal, — disse ela, afastando-se de mim em direção ao mini bar que
havia na antessala e preparando dois drinks — como é seu nome terráqueo?
- Airam Turini. — disse, enquanto caminhava em sua direção — E você, Merina, o que quer comigo?
— O que uma mulher pode querer com um homem? Sabia que nós tiruanas somos muito, como direi?... Fogosas?
— Creio que a palavra mais correta seria “atiradas”, mas...
— Pois brindemos a isso. — disse ela, sorrindo.
Apanhei o copo que ela servira e os tocamos num brinde, com um tilintar.
Mas,
antes que pudéssemos tomar um único gole sequer, a porta foi aberta,
violada por dois enormes brutamontes, dois seres meio répteis, de pele
escamosa e grossa, numa tonalidade marrom acinzentada, com enormes
mandíbulas e pequeninas orelhas em forma triangular. Eles avançaram
sobre nós, mas seu alvo principal parecia ser Merina, ela esquivou-se
com uma habilidade que me abismou, enquanto o segundo invasor chocava-se
contra mim, arremessando-me ao chão.
Meio
tonto, consegui empurrá-lo com os dois pés, enquanto tentava alcançar o
cinturão com minha pistola energética, que ficara pendurada sobre o
encosto da cadeira, próxima à cama. Enquanto isso, o segundo já tinha
Merina em suas mãos, enquanto rugia algo para meu adversário, que
segurava meu pé, embora tentasse esticar-me ao máximo para alcançar a
cadeira.
— Deixe-o! — gritou com uma voz gutural — Temos a garota!
— Não. — retrucou meu agressor — Ele é testemunha!
Porém, antes que conseguissem sair, Arina surgiu na porta, empunhando sua pistola energética.
— Quietos! — gritou ela para os dois invasores, que surpresos ficaram estáticos.
Eu, conseguindo me desvencilhar de meu agressor, apanhei meu coldre, sacando minha pistola e apontando para ele.
— Ainda bem que chegou. — agradeci, erguendo-me do chão.
— Eu escutei o barulho e achei que a festa estava boa! — retrucou ela.
— Mande este idiota me soltar. — pediu Merina, tentando desvencilhar-se das fortes garras de seu captor.
— Faça o que ela manda! — ordenei.
O ser meio lagarto soltou Merina, e aproximou-se de seu amigo, enquanto Merina aproximava-se de mim.
—
Obrigado, terráqueo. — agradeceu ela, e abrindo a pequena bolsa que
trazia, sacou uma pequena arma que apontou em minha direção — Vá com
eles e você também antariana... e solte essa arma!
Arina, surpresa, aproximou-se dos dois seres, enquanto Merina mantinha-me sobre sua mira.
—
Vocês dois, lagartóides, para o banheiro! — ordenou ela, enquanto os
dois obedeciam, resmungando algo em seu idioma gutural — Tranque a porta
terráqueo!
Fiz o que ela mandou, depois eu e Arina aproximamo-nos mais da entrada do quarto.
— Agora, você, antariana, quero que abra o intercomunicador e retire uma pequena sacolinha prateada que está dentro dele!
Arina
fez o que ela mandava, enquanto eu era mantido sobre sua mira. Assim
que conseguiu, entregou a pequena sacola para Merina, colocando-a sobre a
mesa, de onde ela conseguiu apanhá-la.
—
Obrigada! — agradeceu Merina — Sinto muito, terráqueo! Realmente é uma
pena não termos podido aproveitar melhor esta noite, mas fica para outra
vez!
— Só me diga uma coisa. — pedi, enquanto eu e Arina permanecíamos imóveis — Por que eu?
—
Ora, terráqueo... Primeiro pela curiosidade, a oportunidade de ter um
terráqueo. Nunca dormi com nenhum! E segundo que, percebi o porte de sua
amiga e até o seu mesmo... Combatentes estelares, os melhores da
Galáxia. Os únicos que conseguiriam lidar com esses dois lagartóides.
Eles estavam nos meus calcanhares desde que roubei esta joia de seu
chefe, duas noites atrás. Foi fácil entrar aqui e esconder a joia. — ela
retirou um brilhante colar de dentro da sacolinha — Agora presos aqui,
me garantirão o tempo suficiente para escapar deste planeta no
transporte da madrugada!
— Bastante original. — retruquei.
—
Não muito, mas eficaz! Agora os dois tenham uma boa noite! — ela
aproximou-se da porta e, após abri-la, disparou contra o mecanismo de
comando — Creio que pela manhã alguém virá abrir a porta, serviço de
quarto como sabem.
— Eu não te falei. — retrucou Arina.
—
Devia ter escutado sua amiga, terráqueo, ou a mim mesma. Não te falei
que eu era o seu perigo! Tenham uma boa noite! — antes que a porta se
fechasse, ela efetuou mais um disparo, que atingiu o intercomunicador,
fazendo suas peças voarem aos pedaços e despediu-se com um aceno e um
rápido beijo jogado.
A porta fechou, enquanto eu e Arina, sentávamo-nos na cama, lado a lado.
— É, creio que nossa noite não terminou bem como esperávamos. — retruquei, olhando-a.
—
Tem razão, mas dos males o menor! — ninguém se machucou. Arina olhou
para a porta, trancada, do banheiro — O que faremos com esses dois?
— Amanhã, quando abrirem o quarto, chamaremos a segurança, eles que cuidem dos dois, já fizemos nossa parte nessa palhaçada!
— Certo. E nós? — indagou ela com um sorriso — O que faremos?
— Dormir. Ou tem algo melhor em mente? — indaguei, olhando-a nos olhos verdes.
— Quem sabe? Temos a noite toda para tirarmos algumas dúvidas. Por que não começamos logo?
Nossas
bocas foram aproximando-se, lentamente, e tocaram-se num molhado beijo,
enquanto nossos corpos tombavam, lado a lado na macia cama. As luzes
apagaram-se a um simples comando vocal e a luminosidade vinda de fora
cobria-nos com um leve brilho especial. Afinal de contas... Aquele
encontro incomum, não fora de todo ruim!
FIM
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