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quarta-feira, 26 de julho de 2023

Roberta Kelly - A Chave - 4º Capítulo






Capítulo Quatro

_ Marie veio correndo em minha direção e tivemos que nos apressar para não sermos pegas no corredor. No toalete nos lavamos depressa para que quando Sra. Amélia chegasse não notasse o atraso. Marie se lavou e se trocou rapidamente, e quando ela chegou, eu estava me lavando. Não foi surpresa estar atrasada devido ao meu braço machucado. Então ela nada percebeu. Nós a deixamos antes que outras senhoras me apertassem no toalete e quando chegamos à cabine conversamos sobre o que Marie ouviu. Não foi só impressão. Ele realmente se interessou por mim de uma forma comprometedora. O que pensariam de mim se estivéssemos sozinhos? Nem posso imaginar. Ficar mal apresentada antes de chegar ao fim da viagem.
_ O dia estava claro, mas havia nuvens pesadas adiante, e passaríamos por elas até o fim da tarde. Marie e eu fomos ao restaurante para o café da manhã. Scott esperava por nós, para sentarmos todos juntos.

_ Por aqui senhoritas.
_ Obrigada senhor. (Marie respondeu tímida)
_ Obrigada. Sua tia se juntará a nós?
_ Oh não. Ela virá mais tarde.
_ Talvez eu devesse ir ver se ela quer companhia. (Marie disse olhando pra mim)

_ Ela acenou para o garçom e pediu um café puro. Não pude acreditar quando ela disse que tomaria seu café com a Sra. Amélia.
“Traidora.” Pensei.
Lancei um olhar fulminante em sua direção, mas ela se foi.

_ Elas ficaram muito amigas.
_ É. Nem sei como ela vai suportar ficar comigo no hospital. Ela mal consegue me fazer companhia aqui.
_ Layla, o que seus pais pensariam se você fosse morar fora para estudar?
_ Não sei. Minha mãe até aceitaria, mas meu pai é do tipo que pensa que mulher foi feita só para cuidar da casa. Por que quer saber sobre isso?
_ Por nada. É que você parece ser mais instruída do que outras garotas da sua idade.
_ Meu pai não sabe, mas estudei com uma professora particular. Minha mãe dizia que eu estava indo aprender a bordar e costurar. Quando voltava pra casa, ela ensinava-me a bordar e costurar e dizia a ele que eram deveres de casa. Ele ficava todo orgulhoso com meu esforço.
_ Tome seu café, já está esfriando.

_ Eu tinha certeza que ele estava evitando algum assunto. Ele queria perguntar ou dizer alguma coisa séria. Mas não disse nada.
Enquanto isso Marie foi fazer companhia a Sra. Amélia com a desculpa de que ela ficaria sozinha depois. Sra. Amélia deve ter concordado, pois não vieram ao nosso encontro.
Estávamos comendo pouco e falando menos ainda. Então ele quebrou o silêncio.

_ Eu posso ir ao hospital te visitar?
_ Claro, mas não quero que se incomode comigo.
_ Não é incomodo nenhum.
_ Bom, vou para a cabine. Elas parecem que só aparecerão para o almoço.
_ Não vá. Preciso falar algo sério com você, mas não sei como fazer sem te assustar.
_ Já está me assustando. Estou ouvindo.
_ Sua fratura.
_ O que tem ela? Por favor, não me diga...
_ Deixe-me terminar. Sua fratura está causando febre. Se você confiar em mim, posso olhar se não está prendendo sangue ou causando uma lesão maior a essa que já tem. Lembra-se que eu disse que estudava medicina?
_ Sim, mas você precisaria de todas aquelas coisas...
_ Já providenciei. Eu pedi a maleta de remédios e curativos do trem. Já devem ter levado para a cabine.
_ Tudo bem, afinal eu prefiro sentir dor novamente a ficar sem meu braço.

_ Ele havia me assustado muito. Segui em direção a cabine trêmula. Não encontramos Marie e Sra. Amélia. Onde estariam? A cama estava pronta para ele trabalhar em meu braço. Então elas sabiam o que ele iria fazer. Saíram da cabine, pois não devia ser nada interessante olhar o meu braço descoberto.

_ Deite-se na cama e não force o braço.
_ Onde conseguiram essa cama?
_ Faz parte do socorro do trem, quando alguém se machuca ou viaja muito ruim, eles colocam em uma cama dessas. Vou desenrolar essas faixas com o máximo de cuidado, mas se doer não puxe o braço, me avise.
_ Tudo bem.

_ Ele levou alguns minutos e eu não senti nada. Meu braço estava dormente.

_ Layla, temos problemas.
_ Eu já esperava que você dissesse algo parecido.
_ Por quê?
_ A sua expressão. Eu só não sabia se era horror pelo ferimento ou se alguma coisa mais séria está acontecendo.
_ Terei que fazer uma descompressão e isso pode doer. Seu braço está dormente?
_ Sim.
_ Por isso não sentiu os solavancos que tentei evitar. Eu vou tocar nele em partes separadas e gostaria que você dissesse quando sentir minha mão.
_ Tudo bem.

_ Ele tocou desde os dedos até perto do ombro, foi quando senti.

_ É aí. Nesse ponto eu já sinto.
_ Vai doer. Seja forte.
_ Hum...

_ Doeu muito mesmo, tanto que desmaiei. Quando acordei, ele estava terminando de arrumar as faixas junto à tala.

_ Eu já ia te acordar. A dor deve ter sido forte demais, eu imagino. Mas preferi terminar o trabalho com você dormindo. Poupei-te de mais dores.
_ Ainda dói um pouco.
_ Eu sei, já estou com um remédio aqui do meu lado. Só mais uma ponta e pronto. Tome seu remédio.
_ Você trocou as faixas.
_ Sim, aquelas que você usava eram pedaços de tecido improvisado. Essas são próprias para o ferimento respirar sem sujar.
_ Obrigada. Graças a você eu não perderei meu braço. Pelo menos não antes de chegar ao hospital.
_ Pedirei ao médico que ficará encarregado de cuidar de você, para que eu possa participar dos procedimentos. Direi que é para fins do estudo, mas é para garantir que não lhe farão nenhum trabalho errado.
_ Se você ainda estuda como pode saber mais do que um médico formado?
_ Já sou formado, mas não posso dizer isso, pois ainda não me deram o diploma. Eu me especializei nesses tipos de acidentes. E a região onde você mora precisa de um médico que saiba sobre isso.
_ Você pretende trabalhar lá? O Dr. Thomas não irá permitir. Você não o conheceu?
_ Sim e não. Eu o vi em sua casa.
_ Ele é do tipo que fala mal de você pelas costas e trata bem pela frente. Ele é cruel até com os pacientes, imagina com um concorrente?
_ Não se preocupe, ainda é só um pensamento. Eu tenho outra prioridade antes. Se não der certo eu planejo outro caminho.
_ Nossa, você parece um homem cheios de planos e negócios. Tem tempo para curtir a sua vida? Eu tinha tempo pra curtir a minha e veja onde estou. (Risos)
_ Até o momento eu não tinha, mas vou tentar.

_ Parecia estranho, mas conversávamos como se já nos conhecêssemos há muito tempo. Algo nele me fazia sentir bem. Como se ele fosse meu porto seguro. Mas o que eu estava pensando, o conheci no dia anterior. Não me demorei muito nesses pensamentos confusos, pois as mulheres da cabine chegaram.

_ Olá querida, não queríamos atrapalhar o Scott com os procedimentos então saímos.
_ Desculpe-me prima, se seus pais souberem que a deixei sozinha em nosso segundo dia de viagem eles me colocarão em um castigo que nem meus pais poderão tirar.
_ Tudo bem Sra. Amélia e Marie. Scott foi tão cavalheiro que acabei de acordar de meu breve desmaio.

_ Pisquei para Scott e quando fiz isso, elas me olharam assustadas.

_ Scott. (Repreendeu-lhe a tia)
_ É brincadeira Sra. Amélia. Ele fez o que foi necessário.
_ Graças a Deus. Já ia pedir licença a vocês e colocá-lo de castigo. (Risos)

_ Passamos o resto da manhã um pouco quietos. Às vezes alguém falava sobre o tempo como seria ou informava a hora. Eu tentei dormir, mas o braço agora incomodava. Scott percebeu e até pareceu feliz. Assim ele sabia que tinha feito um bom trabalho.
O mensageiro veio avisar do almoço e perguntou se gostaríamos de fazer nossa refeição ali mesmo. Eu interrompi antes que decidissem por minha causa e disse que iríamos ao restaurante.

_ Vamos nos lavar Marie? Quero ver meu rosto antes de assustar alguém nos corredores.
_ Você está ótima. Mas vamos, quero lavar as mãos.
_ Posso ir com vocês? (Perguntou Sra. Amélia)
_ Claro, desculpe-me não chamá-la. Pensei que gostaria de passar algum tempo sozinha com seu sobrinho. Vamos?
_ Sim, vamos.

_ Caminhamos para o toalete em silêncio. Meu rosto estava pálido, mas acho que era só fome mesmo.
Quando chegamos ao restaurante já éramos esperadas com refrescos sobre a mesa.

_ Scott, já pediu para nós?
_ Só o refresco titia. Eles só tinham um sabor pronto, então pedi para todos nós.
_ Está ótimo. Vamos nos sentar garotas.

_ Sentamos e esperamos o garçom anunciar o cardápio do almoço. A refeição não era tão elaborada, mas para um trem em constante movimento, estava ótima.
Ninguém estava muito a vontade no almoço.
Eu estava sem graça por achar que as duas queriam fazer Scott e eu nos conhecermos melhor.
Ele estava sem jeito, pois, parecia que não era aquilo que ele queria dizer no café da manhã.
Marie estava preocupada por ter me deixado sozinha com um homem.
E Sra. Amélia estava preocupada com o assunto que tiveram pela manhã.
Nem vi o tempo passar, e foi fácil comer porque ninguém estava olhando para ninguém. Então terminamos e voltamos para a cabine.



;)

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