Capítulo Cinco
_ Marie e Sra. Amélia sugeriram algo sobre jogarmos cartas.
_ Vamos nos posicionar para o jogo? (Sra. Amélia disse)
_ Mas nossos assentos são longe. (Respondi)
_ Você e Sra. Amélia sentam-se nas poltronas
e Scott e eu sentamos no chão perto de vocês. (Marie sugeriu) Se você não se
importar Scott.
_ Claro, vamos sentar então. (Scott respondeu)
_ Passamos o resto da tarde sentados jogando.
O dia estava calmo até chegarmos às esquecidas nuvens de
chuva. Foi uma tempestade horrível. Nós estávamos ansiosos pelo fim da viagem.
O jantar foi anunciado, e fomos servidos na cabine.
Eu queria sair dali um pouco, mas não consegui.
Scott como sempre ficou ao meu lado para as mulheres
conversarem.
Elas quase sussurravam e não pude entender. Elas combinavam
alguma coisa, mas não me disseram o que era. Nem mesmo Marie contou-me.
Enquanto isso Scott falou comigo novamente.
_ Eu não pude dizer o que exatamente queria pela manhã, e aqui
não é o lugar apropriado.
_ Ele ficou triste e elas olharam para nós. Senti minha pele
queimar quando Sra. Amélia olhou-me com um leve desgosto.
_ Scott, por que ficou triste? Sua tia está pensando que te
magoei com alguma coisa. Vejo que ela cuida de você como um filho.
_ Desculpe-me. Só não consigo disfarçar o que estou sentindo.
_ Será que é muito tarde para tomar um café no restaurante?
_ Oh sim. Já está fechado.
_ Que pena. Gostaria de poder ajudar. Não gosto de te ver
assim. Depois que eu passar pelo médico poderemos conversar. Tudo bem?
_ Está bem. Vamos descansar porque amanhã será um longo dia.
_ Fiz sinal para Marie vir dormir e dei boa noite a Scott e sua
tia. Com certeza o dia seguinte seria longo, principalmente para mim. Ri com
esse pensamento, tentando entender o que ele quis dizer com isso, e também por
que ele ficou tão triste.
Deitamos, mas para mim o sono não vinha. Pensei em meus pais.
Como estaria minha mãe? Fiquei tempo demais tentando entender o Scott durante a
viagem e nem ao menos havia pensado neles. Não até aquele momento.
Esse foi o último pensamento da noite, pois quando dei por
mim, era dia e em breve eu poderia descer do trem.
Marie havia saído da cabine. Pensei que estaria no toalete,
mas depois descobri que ela tinha resolvido o problema que eu enfrentaria mais
tarde. Descer em uma estação lotada. Ela conseguiu permissão para que eu
pudesse ser acompanhada pelos enfermeiros do trem. As pessoas quando os veem
ficam longe para não prejudicar o doente que eles acompanham.
Tomamos nosso café da manhã rápido e voltamos para cabine a
fim de guardar nossos pertences.
O horário previsto para chegada não foi cumprido. Chegamos com
2 horas de atraso. Por causa da chuva o maquinista diminuiu a velocidade.
Estávamos ansiosos para chegar e também mortos de fome, pois
não foi servido o almoço, somente um chá.
Finalmente chegamos e Scott já não estava triste, pois tinha
minha promessa de conversarmos após minha consulta.
_ Sra. Amélia, nem sei como agradecer por deixar-nos viajar com
vocês.
_ Não precisa agradecer querida. Sei que de onde você vem não
há recursos para um atendimento médico ao qual você precisa. E gostei de ter
conhecido vocês.
_ Agora é hora de dizermos um até breve. Vocês irão para casa e
Marie e eu para o hospital.
_ De jeito algum. Você já teve essa discussão com Scott e
concordo com ele. Estamos indo na mesma direção. Vocês irão conosco e assim
ficaremos tranquilos em saber que chegaram ao seu destino.
_ Já que insistem. Mas prometa que irá para casa. A senhora
deve descansar.
_ Tudo bem querida. Então vamos?
_ Sim.
_ O trem parou, e na porta da cabine estavam os enfermeiros
para acompanhar-me. Marie cuidou da bagagem e só precisei caminhar pelo
corredor.
Desci do trem e senti um impacto no último degrau. Dois
enfermeiros seguraram-me para que eu não caísse.
Levaram-me até a carruagem que, aliás, não se parecia nada com
as charretes de minha cidade.
Ninguém falou nada durante o percurso até ao hospital. Marie e
eu descemos e agradecemos mais uma vez a Sra. Amélia e ao Scott. Scott prometeu
voltar ainda naquela noite, mas Sra. Amélia não disse nada. Só desejou boa
sorte e então partiram.
Entramos na recepção e fui informada que logo seria atendida
pelo médico responsável. A enfermeira guiou-nos até o quarto e disse que eu
poderia tomar um banho antes dos exames. Havia um toalete no corredor. Marie
separou roupas para nós duas e então fomos ao esperado banho. Marie ajudou-me
para não molhar as faixas do braço, secou-me e vestiu-me.
Voltamos para o quarto e fui chamada pelo médico.
_ Por aqui. (Disse a enfermeira)
_ Entrei em uma sala pequena, mas as luzes eram tão claras que
ofuscaram minha visão. Meu corpo perdeu um pouco do equilíbrio e fui segurada
pela enfermeira. Seu nome era Rosa, descobri porque estava escrito em uma placa
acima do seu peito.
Deitei-me na cama que havia na sala e então ela começou a
retirar as faixas. Depois que terminou disse para eu não mexer. Ela voltou com
um médico.
_ Olá. Sou o Dr. Born e esta é a enfermeira Rosa. Deixe-me ver
esse ferimento.
_ Quando o Dr. Born entrou na sala, imaginei que fosse um homem
de idade, experiente.
Mas depois de olhar o ferimento, mandou chamar outra pessoa.
_ Srta. Grace, sua lesão é delicada, então vou encaminhá-la
para o Dr. Austin. Ele tem experiência nesse tipo de fratura.
_ Mais uma vez eu não disse nada.
A enfermeira cobriu-me com um lençol e foi buscar o médico em
outra sala. Quando ele chegou fiquei aliviada, era um senhor de idade, com
olhos que transmitiam sabedoria e confiança.
_ Olá minha jovem. Como foi que se feriu?
_ Corria com meu cavalo quando fui surpreendida por uma árvore.
Bati com muita força e fui jogada longe. O Dr. Thomas colocou essa tala e
alguns tecidos amarrados. Mas no trem um rapaz com o qual viajava, colocou meu
braço no lugar e fez novos curativos.
_ Quem é esse jovem Srta. Grace?
_ Ele fez algo errado?
_ Pelo contrário. Vejo que você perderia o braço pela forma que
foi feito o primeiro curativo. O sangue ficou preso e isso indica o começo do
problema. Alguns médicos preferem amputar o braço ou perna quando a fratura
fica assim. Mas sou diferente da grande maioria, gosto de salvar meus pacientes
ou pelo menos tentar.
_ Bom, ele disse que voltaria aqui ainda hoje para pedir
permissão para assistir a cirurgia, porque ele estuda esses tipos de
ferimentos.
_ Estuda medicina?
_ Sim.
_ Você está em um leito?
_ Sim. Tenho uma acompanhante também. Viajamos com esse rapaz e
a tia dele.
_ Hum... Já sei de quem se trata. O jovem Scott.
_ Sim.
_ Então esperarei ele chegar para irmos direto para a cirurgia.
Não é nada sério, mas é melhor tratarmos logo. Você não poderá alimentar-se até
termos terminado.
_ Hum... Tudo bem.
_ Enfermeira, providencie um jantar para a acompanhante da
Srta. Grace.
_ Sim senhor.
_ Leve-a para o centro cirúrgico e deixe tudo organizado.
_ Sim senhor.
_ A enfermeira pediu a uma senhora que levasse o jantar para
Marie e foi até o centro cirúrgico empurrando a cama onde eu estava. Eles
demoraram um pouco e acabei pegando no sono.
Acordei com luzes muito mais fortes do que as da outra sala. Vi o Dr. Austin, Scott e o Dr. Born conversando. Dr.
Born saiu nervoso da sala e Scott vestiu uma roupa branca. Entraram duas
enfermeiras e começaram a me envolver a uns instrumentos. Só depois percebi que
era um lençol azul que impedia que eu olhasse para o braço.
Deram-me um remédio e dormi novamente.
Acordei no quarto junto de Marie. Ela dormia numa cama ao
lado. Havia uma poltrona do outro lado e quase não acreditei no que vi.
Scott.
;)
Nenhum comentário:
Postar um comentário