Capítulo Oito
_ Ele soltou minha mão e seus olhos ficaram escuros de raiva.
Era como se já soubesse de algo errado.
_ O que aconteceu?
_ Dr. Born entrou um tempo depois que você saiu e...
_ E...?
_ Bom, ele tentou me beijar, abri os olhos segundos antes e
virei o rosto. Exigi que me respeitasse.
_ E o que mais? Vindo dele sei que não para por aí.
_ Ele disse que você mente sobre o que diz sobre ele e todas as
coisas que me disse.
_ Contou a ele?
_ Não. Claro que não. Como recusei seu beijo e pedi que se
retirasse ele disse que você devia ter dito algo sobre ele. Eu disse que você
havia falado algo sim.
_ Layla, ele mente. Jamais poderia fazer o que ele diz para
todos. Desde criança. Meu Deus será que ninguém vê a verdade?
_ Scott, eu não disse que acredito nele. Estou te contando isso
porque não confio nele um só segundo. Tive medo de que ele fosse até você
inventar mentiras sobre ontem à noite.
_ E Marie? Ela diria a verdade depois.
_ Marie dormiu novamente. Acho que a dor que sentia era forte
demais.
_ Ficou sozinha com ele?
_ O tom de sua pergunta era de repulsa por termos ficado
sozinhos. Senti que não importava o que ia dizer. Tive medo, mas continuei.
_ Scott, por Deus. Se tivesse acontecido algo de errado eu não
estaria te contando. Acredite em mim, assim como acredito em você.
_ Não acredite.
_ O quê? Scott você está mentindo para mim?
_ Não, não estou. Tem algo que você precisa saber, mas não dá
para falar aqui.
_ Você está me assustando. Primeiro diz que quer me conhecer e
quem sabe unir nossas vidas. Depois diz para não acreditar em você. Por favor,
vá...
_ Não. Não me mande embora. Preciso de você. É a única em quem
confio. Se eu contar você não acreditará. Tenho medo de você não querer mais me
ver.
_ Estava conseguindo chegar ao ponto que Dr. Austin queria. Só precisava
agora mais um pouco de insistência.
_ Tudo bem Scott. Acho que estou abalada pelo acontecimento de
hoje de manhã. Teve muitos feridos?
_ Sim. Alguns com o braço ou a perna quebrados como o seu. Os
médicos estavam horrorizados. Queriam cortar, pois achavam que não tinha mais
solução. Então Dr. Austin me chamou e disse a eles que eu ajudaria.
_ Mas não ouvi nada sobre o acidente antes da enfermeira falar
conosco.
_ Fica do outro lado do hospital. Agora está mais tranquilo.
Muitos já foram embora com alguns arranhões e outros vão permanecer como você.
Layla...
_ Senti uma pontada de preocupação. Algo ruim iria acontecer.
_ Diga. O que há de errado?
_ Há poucos dias que você está longe de casa e...
_ E... Scott diga.
_ Marie pode não sobreviver. Ainda não é comum esse tipo de
cirurgia. Dr. Austin é bom no que faz, mas já perdeu vários pacientes tentando
descobrir a maneira correta de salvá-los. Como a maioria deles já ia morrer
seus familiares apenas se conformaram. Porém não sabem que a instituição que
nos ensina, não ensina tudo. Porque eles também não sabem. Layla, você está
bem?
_ Como posso estar bem? Minha mãe ficou doente em casa, estou
presa aqui nessa cama e agora Marie pode morrer.
_ Gritava com ele nesse momento e não sabia o motivo direito.
Não era culpa dele.
O choro tomou conta de mim e Scott não sabia o que fazer.
Então, ele puxou uma cadeira e sentou-se ao lado da cama. Ele brincava com os
cachos de meu cabelo entre seus dedos e segurou minha mão com sua mão livre.
Beijou-a várias vezes e como isso tirava minha atenção, aos poucos parei de
chorar. Com uma voz que não havia ouvido antes ele perguntou:
_ Está mais calma meu amor?
_ Oh Scott, como pode me amar? Se soubesse que não sou quem
você pensa.
_ Você é exatamente o que penso.
_ O que quer dizer?
_ Cavalos, rios, incêndios...
_ Como?
_ Sei o que faziam.
_ Sabe?
_ Sim. As moças não falam de outra coisa lá. Alice e Layla.
Elas falavam alto para minha tia e eu ouvirmos. Acho que algumas delas tinham
interesse, mas com a raiva que falavam, eu sabia que era verdade. Quis conhecer
as moças rebeldes e então fomos procurar terras na vizinhança. Entramos na sua
casa de propósito. E quando vocês entraram, soube que existiam mesmo. E fiquei
encantado por você.
_ Oh meu Deus! Então meu pai também deve saber. Mas por que ele
nunca disse nada?
_ Acho que não sabe. Elas não devem falar sobre você perto de
alguém da família.
_ Só de lembrar senti tanta vergonha, mas seu rosto não mudou
em nada enquanto falava. Fiquei pensando sobre isso. O tempo passou rápido.
Scott havia saído e a enfermeira veio dar notícias de Marie. Ela ia ficar bem,
mas estava isolada em uma sala de recuperação. Fiquei preocupada em passar a
noite sozinha. Não havia visto o Dr. Born o dia todo. Deduzi que ele estaria à
noite. Ele não apareceu e adormeci tranquila.
Passaram-se alguns dias até Marie voltar para o quarto. Ela
estava abatida, mas já parecia melhor.
Dr. Austin tirou os pontos de meu braço e disse para não
forçá-lo ainda, já que estava curando o corte para depois curar o osso. Métodos
primitivos, mas que evitava ter que cortar o braço ou perna de alguém que
sofresse um ferimento assim. Marie também era uma experiência para eles, mas
ele já havia feito esse tipo de cirurgia antes. Sem sucesso é claro, então
Marie foi uma vitória.
Ficamos de cama algum tempo e Sra. Amélia veio nos visitar
duas ou três vezes. Fazia isso por obrigação, já que estava presente desde o
início.
_ Oi meu amor! (Scott sussurrou em meu ouvido). Como está hoje?
_ Entrou tão sorridente. Era mais lindo ainda quando sorria. Fiquei
um pouco abobada com isso. Como não obteve resposta falou novamente.
_ Hoje você poderá sair dessa cama.
_ Como? Não posso mover o braço.
_ Essa é uma das surpresas de hoje. Dr. Austin
virá colocar uma tala em seu braço. Você poderá caminhar já que ele estará
apoiado.
_ E o que mais irá acontecer?
_ Não posso contar, mas posso adiantar que daremos uma volta
fora do hospital.
_ Hum... Sozinhos?
_ Sim. Não tenha medo. Não te farei mal algum.
_ Nesse momento Dr. Austin entrou e estava tão sério. Não
parecia estar satisfeito com alguma coisa e então falou.
_ Layla, tenho boas e más notícias. Primeiro darei a boa que é
sobre seu braço. Vou colocar a tala e as faixas e você estará livre dessa cama.
O ferimento já secou o bastante e deixarei esta área descoberta
para que cicatrize. Então vamos lá.
_ Ele fez seu trabalho e disse que eu podia me mover.
_ É um pouco desconfortável Dr. Austin, mas é melhor que ficar
presa. E qual é a má notícia?
_ Tem uma segunda boa notícia que envolve Marie. Logo as duas
terão alta e poderão terminar os remédios em casa. Casa, isso me faz pensar na
notícia triste que tenho que dar. Scott, talvez não seja uma boa ideia sair com
Layla hoje, mas depois explico o motivo.
_ Dr. Austin, o que houve? (Pressionei).
_ Layla, não sei como começar. Apesar de ser médico e ter que
informar esse tipo de notícia sempre.
_ Dr. Austin...
_ Hoje de manhã um mensageiro do trem trouxe duas mensagens
endereçadas ao hospital. Uma é pra você, e a outra pra mim. Seu pai enviou
Layla.
_ Minha mãe... Morreu?
_ Comecei a chorar antes da resposta. Scott já segurava minha
mão nesse momento.
_ Sim Layla. Sinto muito. A mensagem para mim dizia que eu te
desse a notícia antes de te entregar a sua.
_ O choro era compulsivo agora. Não fazia tanto tempo que eu
estava longe.
Scott dizia coisas ao meu ouvido querendo me acalmar, mas só
entendi o fim “... estarei sempre aqui meu amor”.
;)
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