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segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Roberta Kelly - A Chave - 10º Capítulo





Capítulo Dez

_ Você está louca?
_ Acabei de pensar sobre isso.
_ Está dividida entre os dois ou é só impressão minha?
_ Não diga bobagens.
_ Veja como o tratou. Quase mais gentil do que trata o Scott.
_ Está bem, não vou mentir. Algo me diz que os dois são inocentes e culpados de certa forma. Cada vez que penso na culpa eu me fecho e cada vez que penso na inocência eu me derreto.
_ Os dois são muito gentis com você.
_ Gentil é pouco. Scott me chama de “meu amor” sussurrando em meu ouvido para ninguém mais ouvir. E Born...
_ Born?
_ Acredita que até flores na mesa do café ele colocou?
_ Estão sendo românticos Layla, talvez seja para te enganar.
_ É. Pode ser.
_ Não digo isso por mal. É só para que tome cuidado.
_ Eu sei. Fique tranquila, saberei distinguir. Ou pelo menos tentarei.

_ Fiquei triste com as últimas palavras de Marie, mas ela tinha razão. Os dois poderiam estar me usando.
Então foi nesse ponto que para mim o mocinho se tornou o vilão e o vilão continuou como tal.
Estava encantada com os dois e tinha medo de me apaixonar. Talvez fosse melhor jogar tudo para o alto e ir embora encontrar meu pai antes que fosse tarde. Claro, Dr. Austin não deixou falando “precisamos de você”. Acabei concordando.
Uma semana depois chegou uma mensagem sobre a morte de meu pai. Como ele havia me preparado antes, não sofri tanto como quando soube da morte de minha mãe. Já aguardava essa notícia por causa da falta de recursos médicos onde ele estava.
Minha vida agora mudaria completamente. Não sabia como iria sobreviver.
Scott e Born tentaram não brigar nos últimos dias. Respeitaram minha dor e só falavam coisas positivas.
A graça é que os dois prometeram o mesmo passeio turístico. Como se houvessem combinado antes, ou talvez só tivesse esses lugares para ir.
Sra. Amélia que estava distante, de repente ficou próxima até demais. Queria levar-nos para sua casa a qualquer custo. Agradeci, mas não aceitei. Nos próximos dias eu retiraria a tala e Marie já estaria boa para irmos embora.
Meu tio pediu para que o pai de Alice comprasse as passagens de volta para nós e depois ele pagaria como pudesse.
Eu teria só uma semana para descobrir a verdade. E não podia continuar com medo de ficar sozinha com algum deles.

_ Layla? Gostaria de ir comigo esta tarde em um passeio?

_ Born saiu na frente, como eu temia que acontecesse.

_ Claro.
_ Então às duas horas eu volto.
_ Está bem.

_ Ele estava saindo do plantão da noite ao qual havia retornado depois de conversar longamente com Dr. Austin.
Ele teve que prometer não passar nem perto do meu quarto durante a noite.
As duas em ponto ele voltou. Estava elegante em um terno preto.
Vesti um dos vestidos que Alice havia me dado, verde claro com uma fita de cetim na cintura.

_ Está linda.
_ Obrigada. Você também.

_ Senti o sangue subir levemente ao meu rosto.
Ele pegou minha mão e então saímos.

_ Vamos à igreja matriz que é uma das primeiras obras da cidade.
_ E depois?
_ É surpresa.

_ Chegamos à igreja e havia uma cerimônia acontecendo.
Gelei no instante em que passamos pela porta.
Era uma cerimônia de enterro.

_ Desculpe-me não imaginei que estaria acontecendo uma cerimônia dessas. Não queria fazê-la lembrar.
_ Não precisa se desculpar. Vamos participar. Farei isso em memória aos meus pais.
_ Tem certeza?
_ Sim. Não se preocupe.

_ Procuramos um lugar para sentar. As pessoas olhavam curiosas. Meu traje não estava na cor apropriada.
Achamos um local mais escondido e sentamos. Corria um frio por minha coluna.
Concentrei-me nas orações. Pedi a Deus que desse aos meus pais um bom lugar, e desse-me força para não desmoronar.
A partir daquele momento tentaria pensar neles só com alegria para não atrapalhar o seu descanso eterno.
A cerimônia terminou e só então fomos conhecer a igreja.
Ele contou os detalhes de sua construção e todo trabalho que ela devia ter dado para ficar pronta.

_ Vamos tomar um chá?
_ Sim.

_ Fomos ao restaurante de um hotel. Que achei muito moderno pra nossa época. Aconchegante, com luzes individuais em cada mesa e duas posições de claridade.
Muitas estavam apagadas quando entramos.

_ Foi bom termos chegado cedo, logo ficará cheio e não poderemos conversar.

_ Ele pediu ao garçom uma mesa afastada.
Sentamos e pedimos nosso chá com biscoitos da casa. Depois que o garçom serviu, começamos a tão esperada conversa. Essa era a surpresa. Ele queria contar tudo.

_ Layla, eu sei que esperava por uma conversa direta e sincera. Não vou começar pela infância.
_ Mas como poderei saber a verdade se não disser tudo?
_ Coisas de crianças não importam muito. Eu não era santo, mas Scott também não. Nas vezes que fomos pego eu assumi a culpa porque sabia que seu pai era bravo e violento. Enquanto meu pai era calmo e dedicado ao filho. Mas a nossa relação ficou estremecida com o que vou te contar. E o Scott sempre conta as histórias a seu favor. Por isso vou direto ao mais importante e um dia eu contarei sobre nossas infâncias.
_ Só prometa que dirá a verdade.
_ Eu prometo. Em uma de muitas noites de estudo, ouvi um grito de socorro no prédio abandonado ao lado do prédio que morávamos. Scott também morava lá.
Era uma espécie de pensão para os estudantes de vários lugares.
Naquela noite estava acontecendo uma das maiores festas da cidade. O rapaz que dava a festa não convidou os ‘encrenqueiros’.
Então Scott e eu éramos os únicos em casa.
Sem pensar muito saí correndo de meu quarto e entrei no prédio vazio, ou pelo menos eu esperava que estivesse vazio.
Vi a sombra de um homem forçando uma jovem a fazer o que não queria. Era noite e só vi sombras. Fui covarde e me afastei, mas decidi voltar alguns minutos depois e enfrentar quem quer que fosse. E encontrei Scott.

_ Dei um salto ao ouvir o nome de Scott. Tentei argumentar, mas as palavras não saíram e ele continuou.

_ Ele me viu entrar e me acusou de ser o responsável. Não entendia o porquê se era ele quem estava ao lado dela. Eu o acusei de volta porque ele havia se sujado com o sangue dela, mas foi só por verificar seus batimentos no pulso e no pescoço. Por isso ele não tem o diploma até hoje. Nunca soube se foi ele, mas não vi mais ninguém. Sempre achei que ele estivesse tentando disfarçar que a socorria. O pior Layla, é que a moça foi noiva de Scott. E minha também.
_ Born.

_ Fiquei paralisada e não consegui dizer mais nada.

_ Sei que pode não acreditar em mim devido o histórico da infância, mas acredite; não sou um monstro.
_ Eu sei. Só não consigo pensar depois de ouvir tudo isso.
_ Por isso Scott sempre fala mal de mim. Ele acha que eu corri quando ouvi seus passos e depois voltei para acusá-lo. Ele não foi preso porque não havia provas o suficiente. Era minha palavra contra a dele.
_ Mas por que brigam até hoje? Pela moça?
_ Não. Desde a infância tínhamos diferenças.
Mesmo enquanto éramos amigos. Mas piorou na adolescência quando deixamos de ser amigos. Acusávamos um ao outro de coisas erradas e às vezes nem era verdade. Só queríamos nos vingar e então apareceu essa moça.
Ela noivou com ele, mas quando o pai dele morreu, ela fugiu. Algum tempo depois ela voltou e então ficamos noivos. Mas não por muito tempo. A natureza dela era essa. Noivar e fugir. Ele ficou aborrecido com tudo e todos. Sua tia sempre fazendo de tudo para ele sair do próprio inferno. De um tempo pra cá comecei a pensar que talvez tivesse mais alguém lá. E por causa de nossas diferenças o culpado fugiu.
_ É possível?
_ Sim. Não havia claridade suficiente e era um lugar destruído com buracos grandes pelas paredes.
_ Talvez alguém tivesse planejado tudo isso.
_ Sim, mas nós fomos inocentes de ir lá. A garota já estava quase morta quando cheguei, e como demorei em ir ajudar, ela acabou morrendo.

_ Nesse momento havia pessoas próximas à nossa mesa e então falamos de outros assuntos, mas não iria esquecer as cenas que se formavam na minha cabeça.

_ Vou te levar de volta.
_ Tudo bem.
_ Agora você já sabe o nosso segredo.
_ Como segredo? Ninguém mais soube?
_ Os oficiais não alarmaram as pessoas e então ninguém sabe. Só você. Por favor, não diga ao Scott que te contei. Ele dirá que voltei a ser criança. Que estou tentando te roubar dele, assim como sempre diz que roubei aquela moça.
_ Tudo bem. Poderei fazer perguntas se surgirem?
_ Sim. Quero que confie em mim. Sempre.

_ Chegamos ao hospital por volta das seis, ainda não havia escurecido. Não disse nada a Marie dizendo que ia tomar um banho antes do jantar. Ela concordou.
Não pude demorar, pois o jantar seria servido em breve. Nem ao menos peguei um vestido limpo para não dar chance a Marie de perguntar alguma coisa.
Como poderia reunir meus pensamentos com Marie me invadindo com perguntas? Teria que escapar de algum modo. Quando atravessei o corredor em direção ao quarto senti um balançar em minhas pernas ao ver Scott parado na porta. Ele estava horrível e com os olhos muito vermelhos.

_ Scott?
_ Vamos conversar fora daqui.
_ Meu...
_ Jantar? Sim, vamos jantar fora.
_ Scott não vou a lugar algum com você nesse estado.

_ As lágrimas começaram a cair.

_ Scott não chore. Por Deus o que está acontecendo?
_ Espere aqui. Eu já volto.
_ Marie? Você entendeu alguma coisa?
_ Sim. Ele teve aqui mais cedo e a enfermeira disse que você saiu com o Dr. Born. Não pude evitar.
_ Agora entendo.




;)

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