Capítulo Dezenove
_ Ele saiu e eu tranquei a porta. Comecei a tirar as roupas.
Escolhi minhas próprias para vestir. Era uma pena ter ganhado essas tão bonitas
de alguém que eu não ia querer ver nunca mais. Coloquei tudo em um saco grande
que encontrei nos armários.
Eu poderia ter morrido, mas até o momento estava viva.
Juntei minhas coisas e comecei a arrumar dentro da mala. Logo
alguém viria e eu iria embora.
Ouvi conversas fora do quarto. Então alguém bateu. Era Born.
_ Layla. O oficial quer falar com você.
_ Abri a porta e vi um dos homens do porão atrás do oficial.
_ É ele oficial.
_ Nós já sabemos Srta. Grace. A questão é que ele diz ter lhe
ajudado de certa forma fornecendo uma faca para se defender do que estava por
vir.
_ Como uma faca poderia me defender de dois homens oficial?
Ainda mais depois de terem me machucado tanto. Eu não teria forças para isso.
Fiquei o tempo toda amarrada, tenho machucados profundos. Se quiser um motivo
para soltá-lo oficial, eu não darei. Estou indo embora. Faça o que achar
melhor.
_ Posso prendê-la por desacato Srta. Grace.
_ Vá em frente oficial. Não será o primeiro. Aliás, eu ser
vítima parece que incomoda a todos. Com licença, tenho que chegar à estação. Já
sofri muito ficando aqui.
_ Não poderá partir.
_ Me prenda...
_ Desde então estou aqui Delegado Logan. Espero que com meu
depoimento rico em detalhes, eu possa finalmente ir embora. Já não aguento o
jeito que todos me olham, uns com curiosidade, outros com pena e também há
aqueles que me olham com raiva.
Eu sou a vítima. Não pedi para ser envolvida nessa história.
_ Acalme-se Srta. Grace. Sabemos que é a vítima e com seu
depoimento em mãos poderemos seguir com os irmãos presos. Talvez precisaremos
que deponha novamente.
_ A única forma de conseguir lembrar tantos detalhes foi me
fechando para o mundo e revivendo cada segundo de angústia que passei. Não
consigo reviver tudo isso novamente. Sinto muito. Existe algo mais com que eu
possa ajudar?
_ Por enquanto não. Quero que assine seu depoimento. Terá que
ficar algum tempo na cidade. Possui casa de parente ou amigo para se hospedar?
Se não, nós poderemos encontrar um lugar para você ficar.
_ Não posso ir para casa e retornar depois quando precisarem?
_ Pode sim, mas e hoje?
_ Preciso buscar minhas coisas no hospital. De lá mesmo se eu
estiver livre, pretendo ir para a estação.
_ Tudo bem. Por favor, assine todas essas folhas. Foi um
depoimento bem longo. Vou providenciar alguém para escoltá-la até o hospital.
De lá estará por sua conta. Tudo bem para você?
_ Sim. Obrigada Delegado. Sei que estava e ainda estou nervosa.
Mas creio que agora compreende meus motivos.
_ Claro Srta. Grace, não foi uma boa estadia em nossa cidade.
Espero que não guarde mágoa de todos daqui. Agora vamos. Você precisa comer
alguma coisa, antes de voltar ao hospital.
Layla não acreditou
no que viu. Dr. Born estava na recepção e assim que ela saiu da sala do
delegado, ele veio correndo ao seu encontro.
O tempo que ficou
ali, a enfraqueceu ainda mais. Não havia comido nada, nem mesmo um copo de água
ela aceitou. Antes que chegasse ao chão Dr. Born a segurou em seus braços.
_ Deixe que eu a leve. Ela estará nesse endereço Delegado.
_ Muito bem Dr. Born. Mas ainda estou de olho no senhor.
_ Esta é a casa de meus pais, Delegado.
Boa noite.
Quando Layla
acordou, estava em um quarto muito bonito. Bem diferente do hospital. Olhou por
todos os lados e não havia ninguém.
Tentou levantar,
mas suas pernas não obedeceram, então não teve escolha a não ser esperar.
Alguém bateu na
porta, e sem reação somente a olhou se abrir.
_ Perdoe-me. Tive ciúmes. Pensei que fosse forte, mas sou muito
fraco.
_ Não há nada para perdoar Born. Vocês homens sempre pensam o
pior de nós e sempre será assim.
_ Isso não é verdade. Eu nunca pensei mal de você antes da
carta. Perdoe-me. Eles me fizeram pensar que você partiu por vontade própria,
mas agora eu sei a verdade. Você continua a mesma para mim.
_ Agora? Depois que aquele homem disse a verdade?
_ Ele não disse nada. Não perguntei também. Acreditei no que
você me contou e... Mostrou.
_ Born, eu sinto muito, mas não estou preparada para nada nesse
momento. Eu sei que disse o contrário antes, mas é o que eu sinto agora. E
antes de começar, eu quero ter certeza.
_ Tudo bem. Eu não vou forçá-la a nada. Scott preparou uma
surpresa para você, mas quando ele voltou e soube do acontecido, quase
enlouqueceu.
_ Como ele está?
_ Está melhor, mas a Sra. Amélia não o deixa sair para nada.
Então eu guardei a surpresa para você aqui na casa de meus pais. E também
porque aqui é o lugar certo.
Ele caminhou até a
porta e conversou brevemente com alguém. Então apontou o quarto para a pessoa
entrar.
_ Alice? Oh meu Deus. Como?
_ Calma, teremos muito tempo para conversar. Como está se
sentindo? Vi quando chegou e não pude acreditar.
_ Como cheguei aqui?
_ B. te carregou.
_ B?
_ Sim. Quando cheguei, fui direto ao hospital e então eu soube.
Vi seus machucados enquanto ele fazia os curativos. Deve ter sido horrível.
_ Ele me fez curativos? Você conheceu a família dele? E por que
o chamou de B.? O que eu perdi nessa história?
_ Calma Layla, são muitas perguntas, mas eu respondo todas.
_ Então fala.
_ Eu nunca te contei que tinha tios aqui na capital? Pois
então. Você está na casa deles, e B. é na verdade aquele primo chato que eu
disse que estudava arduamente para ser um médico respeitado. Sempre ri dele por
isso. E quando você chegou ontem à noite, ele te colocou na cama, titia e eu
trocamos você e depois ele veio fazer os curativos.
_ Não acredito.
_ Scott não sabia que Born era meu primo e insistiu muito para
eu ir para a casa da tia com ele. Vi que ele estava a ponto de agredir B. Você
sabe de alguma coisa?
_ Sim, mas não quero falar disso agora. Preciso de um toalete.
_ Vem, eu te levo.
Alice ia fazer um
interrogatório até que Layla explicasse tudo desde que chegou ali. Layla se
preparava para voltar a ser ela mesma.
E como esperava, bastou chegar ao quarto para Alice começar
sua sessão “Conte-me tudo”.
_ B. cuidou tão bem dos seus ferimentos. Ele parece gostar
muito de você. Acho que posso dizer que está apaixonado.
_ É. Ele disse que gosta de mim.
_ Hum... Então já passamos da fase ‘conquista’.
_ Que fase ‘conquista’? Como sabe sobre isso? Nós nunca...
_ Calma. Eu explico. Depois que você veio
para cá, me senti muito sozinha.
_ Então arrumou outra amiga mais atirada?
_ Não. Passei a conversar mais com minha
mãe. E ela me contou muitas coisas interessantes. Contou-me também as fases do
romance.
_ E você agora está louca para encontrar
alguém.
_ Já encontrei, mas acho que ele não se
interessou por mim. Conversamos muito e ele só falava de você.
_ Born ou Scott?
_ É tão evidente assim?
_ Não. Desde que cheguei aqui estou me
defendendo de ambos.
_ Como assim?
Alguém bateu na porta do quarto e elas interromperam a conversa. Alice
atendeu. Entrou uma senhora e uma jovem. E atrás delas entrou Born.
_ Mamãe esta é Srta. Layla Grace. Layla
esta é minha mãe Sophie Grace Lewis. E essa é minha irmã, Katherine Grace
Lewis.
_ É um prazer conhecê-las. Mas Grace?
_ Oh sim querida, sabia que ia perguntar.
E é um prazer conhecê-la também. Tenho ouvido muito sobre você.
_ Sra. Lewis, desculpe a curiosidade e a
insistência, mas Grace?
_ Antes de lhe contar qualquer coisa sobre
isto, gostaria que Alice já tivesse entregado a carta.
_ Não me falem em cartas por um bom tempo.
(Interrompi).
_ Tudo bem Layla, é do seu pai. (Born
completou).
_ Layla, posso te chamar assim?
_ Claro Sra. Lewis.
_ Por favor, me chame de Sophie. Layla, eu
não sei como te explicar, somos da mesma família. Elas foram separadas há
muitos anos e os ancestrais sempre usaram “Grace” para um dia tornarmos a nos
encontrar. Quando Born disse que encontrou uma Grace original, quer dizer
sobrenome paterno; fiquei muito feliz. Mas logo veio a notícia sobre o estado
de saúde dele e depois o falecimento. Soube tudo o que lhe aconteceu desde que
chegou aqui e fico feliz por estar viva e segura.
Alice havia voltado e segurava a carta. E a essa altura havia dezenas de
perguntas que Layla queria fazer. Por que Alice nunca havia contado que é uma
deles?
Layla pegou a carta e começou a ler pausadamente, para ter certeza do
que estava lendo.
;)
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