Capítulo Quinze
_ Olhamos um grosso álbum da polícia e nada. É claro que ele
não estaria lá. Tive medo de passar como mentirosa. Os oficiais poderiam pensar
que estava acobertando Scott ou Born, porque ambos foram noivos da moça e foram
abandonados por ela. Eu teria que enfrentar meus medos se quisesse sobreviver a
tudo isso.
_ Oficial? Olhamos algumas fotos de colégio do Dr. Born e do
Sr. Scott. Reconhecemos o homem entre os estudantes no álbum do Sr. Scott.
_ Scott estudou medicina, mas não possui registro de médico
devido o acontecido no passado. E eu tinha que tomar cuidado ao me referir a
ele, pois, qualquer deslize seria notado pelos oficiais como interesse
romântico.
_ Dr. Austin, me permite olhá-lo?
_ Claro. Está em meu escritório. Não disse nada antes das
senhoritas olharem, pois ainda tinha esperanças que elas reconhecessem alguém
do álbum da polícia. Vou pegá-lo.
_ Iremos juntos.
_ A propósito Oficial, ele é filho de um conselheiro e a Srta.
Grace só aceita fazer as acusações formais caso liberemos a prima, que
recentemente passou por uma cirurgia delicada e precisa de repouso. Não pode
correr riscos como o dessa noite.
_ Claro. Faremos os documentos necessários junto ao nosso superior
e a liberaremos o quanto antes.
_ Eles saíram. Tranquei a porta e fiquei um pouco mais
aliviada. Marie logo estaria na segurança da casa dela. Eu ficaria um pouco
mais nesse tumulto.
Assustamo-nos quando alguém bateu na porta. Nas últimas horas
isso estava dentro no nosso normal, levar susto atrás de susto.
_ Quem é?
_ Sou eu. Scott. Layla me perdoe.
Abri a porta e ele estava chorando.
_ Scott?
_ Perdoe-me Layla. Sei que tenho sido egoísta e agido como
louco, mas não consigo ser indiferente ao que tenho sentido por você.
_ Ele segurou meu pescoço e deu-me um beijo tão longo que perdi
até o chão. Foi meu primeiro beijo.
_ Scott?
_ Não diga nada. Não brigue comigo. Eu só precisava fazer isso
antes de contar algo importante.
_ Estou ouvindo.
_ Born tem razão. Eu não te contei o que minha tia anda
fazendo.
_ Scott, sei que ela o protege de nós mulheres e por esse
motivo não gosta de mim. Ela deve ter notado que você e Born estão em guerra
por minha causa.
_ É bem mais que isso Layla. Ela tem feito encontros em casa
quase todas as noites e me obriga a participar. Quando não são esses encontros
com várias senhoritas e seus pais, ela promove chás e eu tenho que estar
presente.
_ E você já encontrou o que sua tia está procurando?
_ Já.
_ Já?
_ Encontrei, mas ela está aqui e não foi convidada para nenhuma
dessas tardes e noites sufocantes.
_ Scott...
_ Layla, eu amo você.
_ Sua tia jamais permitirá.
_ Eu sei, por isso não contei antes. Queria ganhar o seu amor,
mas você foi tão dura em dizer que não escolhe nenhum de nós.
_ Eu tive que ser. Vocês se odeiam há muito tempo. E não vou
ser mais um motivo.
_ Então? Eu...
_ Desculpe Scott, não vou te dar esperanças porque realmente
não estou bem para pensar sobre isso agora.
_ É o Born?
_ Não. Não dei esperanças a ele também. O que quero é resolver
essa situação e voltar para casa. Depois pensarei sobre isso.
_ Tudo bem Layla. Vou tentar ser compreensivo. Você sabe que
sou muito impulsivo e sinto um ciúme enorme quando te vejo com Born.
_ Vou saber te compreender quando sair como saiu mais cedo, mas
não vou perdoar se me magoar com insinuações e até
mesmo acusações. Não sou nada sua e nem do Born, então, por favor, me respeite
como amiga.
_ Tudo bem.
_ Ficamos em silêncio um longo tempo. Marie muito discreta,
assim que viu o beijo virou-se na cama e ficou quieta. Não sabia dizer se
fingia ou se realmente dormia.
Não tivemos almoço, também com o caos instalado e oito
trabalhadores a menos, não podia culpá-los.
A tarde passou lenta, muito mais do que o comum. Meu corpo
estava cansado da cama e eu estava enjoada do quarto, mas não havia
possibilidade alguma de me deixarem sair.
Uma auxiliar diferente entrou e avisou que os pacientes que já
estivessem de banho tomado receberiam o jantar. Nós fomos avisadas antes dos
outros devido à falta do almoço. Os outros pacientes receberam o almoço, pois
não estavam envolvidos na tragédia.
Pediria ao Scott para nos acompanhar, mas resolvi que não. Ele
iria embora satisfazer as vontades da tia.
“A tia”. Mais um motivo para eu querer distância dele. Não
quero desunir a pouca família que lhe resta.
_ Acho que vou dar uma volta.
_ Tudo bem. Marie. Acorde. Vamos tomar nosso banho, logo
servirão o jantar.
_ Acho que adormeci de tanta privacidade que queria te dar. Mas
quero saber tudo que perdi.
_ Claro. E quem não ia querer saber não é?
_ Layla, não é todo dia que vemos um beijo daqueles.
_ Tudo bem, depois conto tudo. Mas agora vamos, pois estou
morrendo de fome.
_ Oh, por favor, não use essa palavra.
_ Desculpe, é força do hábito.
_ Fomos para o toalete e demos de cara com Scott saindo.
_ Scott?
_ Desculpe Layla. Não quis assustar você dizendo que ia ao
toalete feminino checar se não tinha nenhum assassino. (Ele sorriu).
_ Podia ter falado sim, Scott. Estamos infelizmente quase
acostumando com isso.
_ Eu sorri de volta e então ele nos deixou entrar.
Não demoramos, não pelo jantar, mas por medo de estar fora do
quarto. Lá podíamos trancar a porta ou nos escondermos novamente atrás dos
velhos armários.
Quando saímos do toalete, o corredor estava escuro.
_ Marie? Consegue andar depressa?
_ Não. Minhas pernas não obedecem.
_ Vamos, você consegue, mas sem fazer barulho.
_ Um homem veio correndo ao nosso encontro e tive que segurar a
boca de Marie para que não gritasse.
_ Fica quieta, ele não nos verá.
_ Como? Não está tão escuro assim.
_ Mas será pior fazer escândalo.
_ Tudo bem.
_ Ele foi chegando perto e parou em nossa frente.
_ Layla? Marie?
_ Born? Ah... Que alívio.
_ Vim correndo assim que as luzes começaram a falhar.
_ Mas dentro do toalete há luz.
_ São dois tipos de energia e você não deve
ter notado quando uma apagou e a outra acendeu. Dentro dos quartos há luz.
Vamos.
_ Marie não consegue andar depressa.
_ Então vem cá Marie.
_ Born a pegou nos braços e fomos o mais rápido possível.
_ Obrigada Born. Entramos em pânico quando não vimos luzes no
corredor.
_ Imaginei que estariam se preparando para o jantar. Scott
disse-me para cuidar de vocês, porque ele não pôde fugir da tia.
_ Ele contou-me sobre os “encontros”.
_ Sinceramente não sei como ele aguenta. Primeiro o pai e agora
a tia.
_ Born, conversei com ele hoje e não dei
esperanças e disse que não havia dado a você também e...
_ Eu sei Layla, Não me dará esperanças para cumprir com sua
palavra.
_ Scott falou com você?
_ Não.
_ Então como sabe?
_ Posso dizer que te conheço um pouco mais que ele. Enquanto
ele se sente ferido eu me concentro em saber o motivo. Você é boa demais e sei
que está sofrendo por não querer escolher um de nós. Tem medo de que o outro vá
sofrer muito.
_ Você fala como se não se importasse.
_ Claro que me importo. É por isso que quero que conheça minha
família.
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