Capítulo Doze
_ Ficamos ali um bom tempo. O dia ficou escuro por causa da
tempestade. Dava muito medo. Não sairíamos dali enquanto não fosse seguro.
_ Layla? Marie? Oh meu Deus será que foram levadas?
_ Creio que não.
_ Ouvi as vozes no quarto e eram de Born e Dr. Austin. Resolvi
que já era seguro e saí do esconderijo improvisado.
_ Graças a Deus! Vocês estão bem?
_ Sim, a menos que você quebre minhas costelas Born.
_ Desculpe-me Layla. Mas o que tinham na cabeça? Por que não
trancaram a porta?
_ Tranquei, mas depois resolvi que era melhor fingir que não
estávamos. Se ela estivesse trancada, teriam certeza que estávamos aqui.
_ Você viu quem foi?
_ Vi um homem de camisa preta e então acordei Marie.
_ Não Layla, o homem que apareceu estava de vermelho.
_ Meu Deus! Então são dois, porque a primeira vez que apareceu
estava de preto e depois realmente a camisa era vermelha. Mas Born, eles são
idênticos.
_ Mas não há casos de gêmeos idênticos aqui na nossa região. É
sempre um casal, ou quando são meninos ou meninas são sempre diferentes. (Dr.
Austin completou)
_ Dr. Austin, se eu trouxer o álbum dos estudantes do ano em
que aquilo ocorreu e Scott trouxer o dele, Layla e Marie podem olhar. É só um
pensamento que eu tive e o senhor pode dar uma olhada nos registros dos gêmeos daqui.
Estudei com um dos irmãos Roger e Scott com o outro. Eles não são idênticos,
mas são bastante parecidos.
_ Tudo bem Born, mas primeiro temos muito trabalho aqui e eu
quero que vá buscar Scott para ajudar.
_ Não creio que me acompanhe.
_ Diga que é urgente e que eu o enviei. Se precisar conte o que
aconteceu, mas do contrário deixa que eu mesmo conto.
_ E o álbum?
_ Diga-lhe que eu preciso e que você não sabe para que. E vocês
duas fiquem aqui com a porta trancada. Assim que possível alguém trará o café
para vocês.
_ Tudo bem.
_ Concordei. Não demorou muito para o medo tomar conta do resto
de meus nervos. Eu vi puro terror no corredor. Não consegui esquecer aquilo.
Dr. Austin pediu reforço, disse que tinha muito trabalho.
Imagino o que significa quando um médico diz que tem muito trabalho depois de
uma grande tragédia.
A imagem dos homens me encarando não saía da memória. Ele não
é estranho. Já o vi antes. Fechei meus olhos e comecei a pensar. “Alguém parecido na igreja ou no
restaurante.” Por mais que tentei não consegui achar. Ele me viu. Eu o ouvi
dizer isso, não sei se para si mesmo ou para o companheiro. De qualquer modo eu
estou sendo seguida e observada de muito perto. Do contrário como ele saberia
que eu estava com o mesmo vestido no jantar com Scott?
Ele ou eles, quem serão? Por que estão atrás de mim?
_ Layla?
_ Sim Marie.
_ Me conta o que está acontecendo, por favor.
_ Oh Marie, eu disse que contaria, mas agora não sei se é uma
boa ideia você saber sobre isto.
_ Por que não? Eles vão me matar junto com
você, sabendo ou não.
_ Tudo bem. Estamos aqui há dias e Born e Scott não falavam
nada. Só diziam que eu tinha que saber de alguma coisa e talvez os odiasse
depois. Ontem os dois resolveram criar coragem e me contar, mas um não sabe da
revelação do outro.
_ E é tão grave assim?
_ Bom, tem uma morte no meio.
_ E agora têm várias.
_ Talvez. Ainda não sabemos se aqueles homens mataram alguém.
_ Eu sabia que sim, mas não havia contado a Marie sobre o que
vi no corredor.
_ E então Layla, continua. Você disse que os dois falaram tudo
ontem?
_ Sim é verdade. Born me levou...
_ Contei a ela tudo o que aconteceu e tudo o que me disseram.
_ Então pelo o que ouvimos, os assassinos estão atrás de nós. É
por isso que Born foi buscar fotografias para ver se o reconhecemos como sendo
o mesmo daquela noite?
_ Acho que ele pensa que pode ser o mesmo. O assassino está com
medo que eu junte as peças por tudo o que eles me contaram. Porque um acusou o
outro sem saber, ou sem querer saber a verdade. E por demonstrarem que gostam
de mim, me ouvirão. Então a polícia irá investigar novamente. Se esse homem
está tentando me impedir, deve ter alguma culpa.
_ Por que esse homem pensa que você sabe de alguma coisa? O que
faremos Layla? Estamos sozinhas, longe de casa e sem proteção.
_ Calma Marie. Estamos longe sim, mas estamos protegidas.
Scott, Born e o Dr. Austin não deixarão nada acontecer. E quanto ao homem, ele
está me observando de muito perto e com certeza já notou o interesse dos dois
por mim.
_ Estamos protegidas? E onde eles estavam ontem?
_ Mas ninguém sabia que eu estava sendo vigiada e agora
sabemos.
_ Alguém bateu na porta e nós não respondemos, em parte porque
nos assustamos.
_ Layla? Marie? Sou
eu, Scott. Abram.
_ Ele trazia consigo uma auxiliar e o café da manhã.
_ O que aconteceu aqui? Vocês estão bem? Estão feridas? Quem...
_ Hey, calma. Uma pergunta de cada vez.
_ Desculpe, é que Born disse que alguém entrou aqui e tentou
matar vocês e só assim eu aceitei vir com ele.
_ Sim, eles não fizeram nada quando me olharam pela porta, mas
voltaram assim que nos escondemos.
_ Como assim? Entrou alguém aqui? O que...
_ Está fazendo de novo Scott.
_ Fazendo o quê?
_ Milhões de perguntas e eu não consigo responder.
_ Não aguentei sua expressão de espanto e dei-lhe um sorriso.
Ele me abraçou e pude sentir seu coração batendo muito rápido.
_ Scott nós estamos bem. Você deve ir ajudar o Dr. Austin e
também o Born. Depois você volta e conto-lhe tudo.
_ Tarde demais querida. (Interrompeu o Dr. Austin e Born calado
com ele).
_ As vítimas foram fatais. Não pudemos fazer nada.
_ Quantas vítimas Dr. Austin? (Eu quis saber).
_ Oito contando o rapaz da segurança que passou nos quartos
avisando para trancarem as portas. Ele fez um bom trabalho salvando as pessoas,
mas foi pego por trás. O assassino ou os assassinos deixaram o hospital logo
depois.
_ Por que fizeram isso? (Marie perguntou).
_ Mataram para não serem reconhecidos. Vocês duas estão na
lista.
_ Não as assuste Dr. Austin. (Interrompeu Born). Temos que
juntar as peças e saber quem está fazendo isso. Só pode ser o mesmo que pegou
aquela moça anos atrás e o mesmo que pegou a última há uns dias.
_ O que podemos fazer para ajudar a pegar os culpados? (Scott
quis saber).
_ Born, vá buscar seu álbum e Scott fique com elas. Eu tenho
que avisar as famílias e esperar os oficiais. Vá depressa Born, enquanto
eles não chegam. Depois ninguém sai ou entra aqui. Depois mostramos o que você
trouxe Scott.
_ Certo Dr. Austin.
_ Born foi buscar as fotografias e Dr. Austin saiu para avisar
as famílias. Scott estava tenso, preocupado com as possíveis insinuações dos
oficiais. Afinal, ele e Born sempre eram apontados antes de qualquer outro.
Dessa vez eles tinham a Marie e eu para inocentá-los.
_ Layla, eu sinto muito não estar aqui para te proteger.
_ Não é culpa sua Scott.
_ É sim. A envolvi em um mundo ao qual não precisava pertencer.
_ Scott, preciso dizer algo importante, mas para Born e Dr.
Austin também. E preciso que estejam juntos.
_ O que há de errado?
_ Tenho que pedir permissão para dizer. Enquanto isso pode
falar de outra coisa? Não consigo relaxar, meus nervos estão travados de tanto
terror.
_ Desculpe Layla. Você tem passado por momentos horríveis e
estou te colocando no meio de mais esse.
_ Fiquei calada. Não podia aliviar sua culpa enquanto Dr.
Austin não voltasse. Marie assustada como sempre também não disse nada. Scott
sentou-se e ficou ali olhando vagamente. Eu sabia que ele não era o assassino e
Born também não. Os dois haviam demonstrado de diversas formas que gostavam de
mim, talvez mais do que deviam. “Não quero ter que escolher.”
Pensei.
Comecei a fazer comparações, sem querer é claro, não pude
evitar.
Scott com cabelos pretos e olhos azuis, um lindo sorriso e um
jeito de garoto. Romântico, mas muito ciumento. Tive medo dele quando jantamos
sozinhos. Seus olhos ficaram negros, o azul lindo simplesmente desapareceu, e
eu sabia que era ódio.
Já Born com seus cabelos pretos também, porém seus olhos
verdes. É atrevido e ousado. Não ia perder a batalha sem lutar. Não demonstrava
ter ciúmes, mas sei que sentia. Seus olhos ficavam verdes escuros sempre que
Scott estava perto. Não sei, mas Born começou a despertar algo em mim. Pode ser
que por eu ser ousada e atrevida confunda os sentimentos por ele.
Alice e eu nunca paramos para pensar em como seriam nossos
maridos, mas existia o medo de arrumar alguém sério demais, ou alguém pior do
que sério. Alguém que nos machucasse por dentro e por fora. E agora eu estava
dividida entre duas possíveis histórias de amor.
De um lado um garoto romântico e ciumento demais. Do outro
lado outro garoto, porém atrevido e ousado e não menos romântico que o
primeiro.
Fechei os olhos e tentei imaginar a minha vida com um e depois
com outro. Não consegui, pois nunca havia me preparado para esse momento. A
verdade é que sempre existiu medo. Medo de casar contra vontade. Medo de casar
com alguém violento. E agora medo de escolher a pessoa errada. Decidi então não
escolher. Seria assim. Voltar para casa e esquecer a ambos. Sumir por um tempo.
Só Deus sabe o futuro, mas uma coisa é certa: não vou escolher.
;)
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