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terça-feira, 29 de agosto de 2023

Roberta Kelly - A Chave - 20º Capítulo




Capítulo Vinte

     Querida Layla, se você está lendo isto tem dois motivos: o primeiro é que andou mexendo no que não devia. O segundo é que não estou mais ao seu lado. Não tenho como saber o motivo, mas você precisa saber algumas coisas.
     Para começar não somos pobres. Sempre me preocupei em criar um filho homem, mas nunca soube como agir com você. Sua mãe quase morreu quando você nasceu e então para não perdê-la, não quis mais filhos. Você se tornou meu maior tesouro, mas como os homens são interesseiros e violentos, decidi junto com sua mãe, mudar nosso padrão de vida.
     Desfizemo-nos dos luxos da casa e para seu bem fiz sua mãe prometer nunca contar a você a verdade.
     Os presentes que ganhava e ganha de Alice...

_ Alice, como pôde?
_ O que fiz?
_ Vai dizer que não sabe nada sobre mim que eu mesma não saiba?
_ Do que você está falando?
_ Ela não deve mesmo saber, continue lendo. (Sra. Sophie interrompeu).

     Os presentes que você ganhava e ganha de Alice, nunca foram presentes. Ela não sabe, mas cada vez que havia uma festa ou algum aniversário ou outra data importante, ela era induzida gentilmente pela mãe a dar-lhe um vestido ou qualquer objeto que estivesse precisando. Mas era eu quem pagava por tudo. A não ser quando era seu aniversário, e mesmo que não tivesse festa, ela fazia questão de passar o dia todo com você. Era o único presente de verdade.
     Sua mãe e eu planejamos tudo com os pais dela quando vocês nasceram. Não sabia ao certo se a amizade seria verdadeira, se não fosse nós tínhamos outros planos. Os pais de Alice são os únicos que sabem da verdade e as outras pessoas pensam que perdi minha fortuna em jogos.
     Existe outra coisa que quero que saiba. Não somos sozinhos no mundo como você imagina. A tia de Alice que mora na capital é uma Grace. Mas nunca permiti que os pais dela dissessem sobre nossa existência. Por isso você era sempre proibida de ir à casa de Alice quando eles vinham de visita.
     Nunca soube o motivo por não podermos falar com eles, mas foi ensinado assim ao meu pai e a mim. Quero que seja diferente com você. Prometi ao meu pai que jamais procuraria por nossa família Grace, mas sempre quis encontrá-los. E você tem liberdade para querer conhecê-los ou não.
     Por último quero que me perdoe meu amor. Você sofreu várias ocasiões desagradáveis por acharem que era pobre, mas só fiz isso para te proteger e também para não te mimar.
     Tenha certeza do amor de um rapaz antes de contar que tem posses. E com certeza, essa sua amiguinha Alice, será amiga verdadeira para toda vida. Conserve-a.
     Lembre-se que eu te amo e sempre amarei.
     Seu pai Antony Martim Grace.

_ Layla não chore.

     Alice a abraçou e ela não conteve o choro. Havia prometido que não ficaria triste por eles e em troca sentiria saudade apenas. Mas lendo a carta e sentindo todo o amor deles, não resistiu e desabou.

_ Layla, quando estiver pronta conversaremos.
_ Tudo bem.
_ Venha Katherine, deixe-os conversar.
_ Ah mamãe!
_ Vocês terão tempo para se conhecer, eu prometo.

     O quarto ficou em silêncio por um tempo. E então Born foi olhar os machucados novamente.
     Layla o olhou com pena. Queria brigar com ele e tudo o que ela via em seus olhos e em seus gestos era amor. Podia estar errada e ele sentir só pena por ser uma familiar distante que viveu muitas tragédias nos últimos meses.
     Ela não tinha ideia de quanto tempo ficou presa naquela cama de hospital. Marie doente também e o sequestro. Agora estava ali, na casa dele. O homem por quem seu coração bateu forte desde o início e nunca quis admitir.
     Na verdade ela pensava que gostava dessa forma de Scott, mas foi só entusiasmo por ter sido o primeiro “não bruto” que conheceu. Sua tia também influenciou muito no início, mas mudou de ideia e simplesmente sumiu levando Scott.
     Ela estava perdida em seus pensamentos quando foi interrompida.
_ Layla...
_ Oh! Desculpe. Faz tempo que estão chamando?
_ Não. Mas você ficou longe tempo suficiente para eu arrumar briga com B.
_ E eu com essa aí. (Born bufou de volta).
_ Tudo bem. O que eu perdi, e quero a verdade e não quero vocês dois se ofendendo. Por favor, Alice. Born.
_ Sem ofensas Layla, mas somos assim desde crianças. E ninguém morreu. (Risos).
_ É claro. Comecem, estou esperando.
_ Layla que história é essa de você ter que se defender do B. quando chegou ao hospital?
_ Hum... Quer mesmo falar disso?
_ Esse era o motivo de nossa ‘briga’.
_ Born tentou me beijar enquanto eu dormia.
_ Aí eu fui proibido de entrar no quarto dela até aprender a me comportar. Coisa de jovem foi o que me disseram. (Born completou).
_ É isso mesmo Layla ou B. está distorcendo sua reposta? E por que você não foi expulso do hospital e teve seu diploma suspenso?
_ Porque eu não dei queixa formal Alice. Não achei que ele fizesse isso sempre, afinal, o jeito que me olhava enquanto me atendia, era como se estivesse vendo...
_ A mulher da minha vida. E você é.
_ Termina sempre a frase pra todos ou é só pra ela?
_ Vai começar a implicar de novo?
_ Parem. Born, Alice é uma dama precisa parar de tratá-la assim. E Alice, não precisa me defender dele, não mais.
_ Entendi. Os pombinhos querem ficar sozinhos.
_ Não. Minha mãe entraria em um segundo. Mas você pode fingir que é uma parede.
_ Antes de você atacá-la preciso perguntar algo.
_ Sim.
_ Os homens foram presos?
_ Edgar e Joan foram presos, mas Joan foi solto. Longa história; outra hora quando eu souber mais sobre isso eu informo vocês.
_ Born, ele virá aqui me pegar.

     Ela começou a entrar em pânico, estava muito abalada.

_ Calma Layla. Está vendo o que fez B.? Não custava ter mentido.
_ Hey, custava sim. Eu tenho direito de saber.
_ Ela tem razão Alice. Layla, ele está sendo seguido. Por isso o soltaram. Como não tiveram sucesso com os interrogatórios eles acham que cedo ou tarde ele irá falar com o principal procurado pelos crimes.
_ Como assim Born?
_ Eles acham que tem uma pessoa comandando tudo o que os dois fazem. Os oficiais querem prender todos os culpados.
_ Hum... Então ele é uma isca?
_ Exatamente. Não se preocupe, terá segurança aqui, e ele não sabe onde você está. Nós o deixamos pensar que foi levada para sua casa.

     Passado o susto, Born começou a provocar Alice novamente.

_ Então priminha, vai virar parede ou não?
_ Não...

     Layla a olhou, como se pedisse para os deixar um momento, mas claro, sem deixar o quarto. Não queria a mãe dele ali novamente. Pelo menos não agora. Ela continuou.

_ ...mas posso ir olhar um pouco a paisagem lá fora.
_ Boa menina. (Born provocou).

     Ela foi para a janela mais distante do quarto. E então ele se moveu para mais perto. Seu rosto ficou muito próximo, tanto que sua respiração se misturou com a dela, e então ele se afastou.

_ Layla eu não posso.
_ Não pode o quê?
_ Não posso correr o risco de não me deixarem vir aqui te ver. Foi muito difícil no hospital quando me interpretou errado e o Dr. Austin me proibiu de cuidar de você.
_ Ninguém vai.
_ Sério?
_ Sim, e se você não me der esse beijo logo, terei que forçar meus pulsos machucados.
_ Por quê?
_ Para te puxar...
_ Layla...
_ Eu já perdi tempo demais

     Ela falava e o beijava ao mesmo tempo. Tantos encontros e desencontros, mesmo estando sempre juntos. E então foram interrompidos...

_ Uh...
_ Layla, sua boca está...
_ Eu sei, eu senti o gosto de sangue.
_ Desculpe-me, acho que isso terá que esperar.

     Ela concordou com a cabeça enquanto ele verificava os ferimentos.

_ Eles foram tão cruéis. Só não os matei porque precisamos saber quem mais está envolvido.
_ Não diga isso. Tenho orgulho do quanto fez para me proteger. Não o vejo como um assassino. Nunca. Jamais.
_ Acho que é por isso também. Não quero perdê-la. Deixe-me ver isto.

     Ele foi chegando perto de novo, mas desta vez só encostou seus lábios nos dela.
     Estava claro que teriam que esperar.
    
_ Vou pegar um remédio para seu rosto.




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