Capítulo
Vinte
Querida Layla, se você está lendo isto tem dois motivos: o primeiro é
que andou mexendo no que não devia. O segundo é que não estou mais ao seu lado.
Não tenho como saber o motivo, mas você precisa saber algumas coisas.
Para começar não somos pobres. Sempre me preocupei em criar um filho
homem, mas nunca soube como agir com você. Sua mãe quase morreu quando você nasceu
e então para não perdê-la, não quis mais filhos. Você se tornou meu maior
tesouro, mas como os homens são interesseiros e violentos, decidi junto com sua
mãe, mudar nosso padrão de vida.
Desfizemo-nos dos luxos da casa e para seu bem fiz sua mãe prometer
nunca contar a você a verdade.
Os presentes que ganhava e ganha de Alice...
_ Alice, como pôde?
_ O que fiz?
_ Vai dizer que não sabe nada sobre mim
que eu mesma não saiba?
_ Do que você está falando?
_ Ela não deve mesmo saber, continue lendo.
(Sra. Sophie interrompeu).
Os presentes que você ganhava e ganha de Alice, nunca foram presentes.
Ela não sabe, mas cada vez que havia uma festa ou algum aniversário ou outra
data importante, ela era induzida gentilmente pela mãe a dar-lhe um vestido ou
qualquer objeto que estivesse precisando. Mas era eu quem pagava por tudo. A
não ser quando era seu aniversário, e mesmo que não tivesse festa, ela fazia
questão de passar o dia todo com você. Era o único presente de verdade.
Sua mãe e eu planejamos tudo com os pais dela quando vocês nasceram. Não
sabia ao certo se a amizade seria verdadeira, se não fosse nós tínhamos outros
planos. Os pais de Alice são os únicos que sabem da verdade e as outras pessoas
pensam que perdi minha fortuna em jogos.
Existe outra coisa que quero que saiba. Não somos sozinhos no mundo como
você imagina. A tia de Alice que mora na capital é uma Grace. Mas nunca permiti
que os pais dela dissessem sobre nossa existência. Por isso você era sempre
proibida de ir à casa de Alice quando eles vinham de visita.
Nunca soube o motivo por não podermos falar com eles, mas foi ensinado
assim ao meu pai e a mim. Quero que seja diferente com você. Prometi ao meu pai
que jamais procuraria por nossa família Grace, mas sempre quis encontrá-los. E
você tem liberdade para querer conhecê-los ou não.
Por último quero que me perdoe meu amor. Você sofreu várias ocasiões
desagradáveis por acharem que era pobre, mas só fiz isso para te proteger e
também para não te mimar.
Tenha certeza do amor de um rapaz antes de contar que tem posses. E com
certeza, essa sua amiguinha Alice, será amiga verdadeira para toda vida.
Conserve-a.
Lembre-se que eu te amo e sempre amarei.
Seu pai Antony Martim Grace.
_ Layla não chore.
Alice a abraçou e ela não conteve o choro. Havia prometido que não
ficaria triste por eles e em troca sentiria saudade apenas. Mas lendo a carta e
sentindo todo o amor deles, não resistiu e desabou.
_ Layla, quando estiver pronta
conversaremos.
_ Tudo bem.
_ Venha Katherine, deixe-os conversar.
_ Ah mamãe!
_ Vocês terão tempo para se conhecer, eu
prometo.
O quarto ficou em silêncio por um tempo. E então Born foi olhar os
machucados novamente.
Layla o olhou com pena. Queria brigar com ele e tudo o que ela via em
seus olhos e em seus gestos era amor. Podia estar errada e ele sentir só pena
por ser uma familiar distante que viveu muitas tragédias nos últimos meses.
Ela não tinha ideia de quanto tempo ficou presa naquela cama de
hospital. Marie doente também e o sequestro. Agora estava ali, na casa dele. O
homem por quem seu coração bateu forte desde o início e nunca quis admitir.
Na verdade ela pensava que gostava dessa forma de Scott, mas foi só
entusiasmo por ter sido o primeiro “não bruto” que conheceu. Sua tia também
influenciou muito no início, mas mudou de ideia e simplesmente sumiu levando
Scott.
Ela estava perdida em seus pensamentos quando foi interrompida.
_ Layla...
_ Oh! Desculpe. Faz tempo que estão
chamando?
_ Não. Mas você ficou longe tempo
suficiente para eu arrumar briga com B.
_ E eu com essa aí. (Born bufou de volta).
_ Tudo bem. O que eu perdi, e quero a
verdade e não quero vocês dois se ofendendo. Por favor, Alice. Born.
_ Sem ofensas Layla, mas somos assim desde
crianças. E ninguém morreu. (Risos).
_ É claro. Comecem, estou esperando.
_ Layla que história é essa de você ter
que se defender do B. quando chegou ao hospital?
_ Hum... Quer mesmo falar disso?
_ Esse era o motivo de nossa ‘briga’.
_ Born tentou me beijar enquanto eu dormia.
_ Aí eu fui proibido de entrar no quarto
dela até aprender a me comportar. Coisa de jovem foi o que me disseram. (Born
completou).
_ É isso mesmo Layla ou B. está
distorcendo sua reposta? E por que você não foi expulso do hospital e teve seu
diploma suspenso?
_ Porque eu não dei queixa formal Alice.
Não achei que ele fizesse isso sempre, afinal, o jeito que me olhava enquanto
me atendia, era como se estivesse vendo...
_ A mulher da minha vida. E você é.
_ Termina sempre a frase pra todos ou é só
pra ela?
_ Vai começar a implicar de novo?
_ Parem. Born, Alice é uma dama precisa
parar de tratá-la assim. E Alice, não precisa me defender dele, não mais.
_ Entendi. Os pombinhos querem ficar
sozinhos.
_ Não. Minha mãe entraria em um segundo.
Mas você pode fingir que é uma parede.
_ Antes de você atacá-la preciso perguntar
algo.
_ Sim.
_ Os homens foram presos?
_ Edgar e Joan foram presos, mas Joan foi
solto. Longa história; outra hora quando eu souber mais sobre isso eu informo
vocês.
_ Born, ele virá aqui me pegar.
Ela começou a entrar em pânico, estava muito abalada.
_ Calma Layla. Está vendo o que fez B.?
Não custava ter mentido.
_ Hey, custava sim. Eu tenho direito de
saber.
_ Ela tem razão Alice. Layla, ele está
sendo seguido. Por isso o soltaram. Como não tiveram sucesso com os
interrogatórios eles acham que cedo ou tarde ele irá falar com o principal
procurado pelos crimes.
_ Como assim Born?
_ Eles acham que tem uma pessoa comandando
tudo o que os dois fazem. Os oficiais querem prender todos os culpados.
_ Hum... Então ele é uma isca?
_ Exatamente. Não se preocupe, terá
segurança aqui, e ele não sabe onde você está. Nós o deixamos pensar que foi
levada para sua casa.
Passado o susto,
Born começou a provocar Alice novamente.
_ Então priminha, vai virar parede ou não?
_ Não...
Layla a olhou, como
se pedisse para os deixar um momento, mas claro, sem deixar o quarto. Não
queria a mãe dele ali novamente. Pelo menos não agora. Ela continuou.
_ ...mas posso ir olhar um pouco a paisagem lá fora.
_ Boa menina. (Born provocou).
Ela foi para a
janela mais distante do quarto. E então ele se moveu para mais perto. Seu rosto
ficou muito próximo, tanto que sua respiração se misturou com a dela, e então
ele se afastou.
_ Layla eu não posso.
_ Não pode o quê?
_ Não posso correr o risco de não me deixarem vir aqui te ver.
Foi muito difícil no hospital quando me interpretou errado e o Dr. Austin me
proibiu de cuidar de você.
_ Ninguém vai.
_ Sério?
_ Sim, e se você não me der esse beijo logo, terei que forçar
meus pulsos machucados.
_ Por quê?
_ Para te puxar...
_ Layla...
_ Eu já perdi tempo demais
Ela falava e o
beijava ao mesmo tempo. Tantos encontros e desencontros, mesmo estando sempre
juntos. E então foram interrompidos...
_ Uh...
_ Layla, sua boca está...
_ Eu sei, eu senti o gosto de sangue.
_ Desculpe-me, acho que isso terá que esperar.
Ela concordou com a
cabeça enquanto ele verificava os ferimentos.
_ Eles foram tão cruéis. Só não os matei porque precisamos
saber quem mais está envolvido.
_ Não diga isso. Tenho orgulho do quanto fez para me proteger.
Não o vejo como um assassino. Nunca. Jamais.
_ Acho que é por isso também. Não quero perdê-la. Deixe-me ver
isto.
Ele foi chegando
perto de novo, mas desta vez só encostou seus lábios nos dela.
Estava claro que teriam
que esperar.
_ Vou pegar um remédio para seu rosto.
;)
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