Capítulo Dezesseis
_ Born, eu...
_ Não precisa ser agora. Eu ia pedir uma enfermeira que
acompanhasse Marie de volta pra casa, mas resolvi que eu mesmo a levarei.
_ Por quê?
_ Porque pressinto que ela não ficará bem com uma enfermeira e
quero ter certeza que chegará bem.
_ Pode me fazer um favor?
_ Sim. Pode dizer.
_ Escreverei uma mensagem a Alice. Entrega para mim?
_ Claro. Fique tranquila. Conversei com Scott, ele te fará
companhia enquanto eu estiver fora. Ele até me agradeceu. Disse que ficará
melhor aqui do que com a tia e seus encontros.
_ Alguém bateu e ele mesmo abriu. Era a auxiliar e o jantar.
Ainda me recuso a acreditar no que vi e ouvi.
_ Por favor, prove a comida e a bebida das senhoritas.
_ Não posso Dr. Born.
_ Por quê?
_ Oh meu Deus. Sinto muito.
_ Ela saiu correndo.
_ Layla, tranque a porta e não comam nada que trouxerem.
_ Ele saiu correndo atrás dela. Então tudo ficou estranho...
Marie empurrou o
carrinho de comida para fora do quarto e trancou a porta.
Layla nunca
imaginou tanta tragédia. Ela ficou desmaiada por um tempo. Marie não pôde
tirá-la do chão, então esperou que o Dr. Born voltasse.
Ele trouxe o jantar
e viu que ela não estava normal quando acordou, pois não se lembrava de quase
nada. Eles jantaram e Layla desmaiou novamente.
_ Srta. Grace, está tudo bem?
_ Sim Delegado Logan.
_ Deseja fazer uma pausa? Beber uma água ou um café?
_ Não Delegado, estou bem, obrigada. Só não tenho muita certeza
do que aconteceu nesse período e sinto que jamais saberei.
_ Por favor, continue. Vamos tentar ir para nossas casas ainda
hoje.
_ Tudo bem Delegado.
Layla não tinha
como saber o que aconteceu entre um desmaio e outro. Talvez fosse só o seu
corpo pedindo um tempo de paz.
_ Então Delegado como dizia. Tudo ficou estranho. Ouvi Marie e
Born conversarem, mas meu corpo não reagia.
_ Layla? Layla?
_ Ela não pisca.
_ Mas sei que ela ouve. Layla reage. Marie fique com ela. Eu
não demoro.
_ Layla, pode me ouvir?
_ Marie? Por que está me segurando?
_ Layla, graças a Deus.
_ O que houve? Eu me sinto estranha.
_ Fique calma que o Dr. Born já vem e explica tudo. Está bem?
_ Eu acho que supero mais isso.
_ Eu fiquei em um tipo de transe, mas com os olhos abertos por
uns poucos minutos. Suficiente para Marie quase enlouquecer. Born não estava no
quarto e ela estava calada, com aparência de quem ia começar a chorar.
Lembro-me do Born sair correndo atrás da auxiliar, mas não lembro de mais nada
depois disso.
_ Layla, você está bem?
_ Estou bem, mas não lembro o que aconteceu.
_ Você se lembra de tudo antes?
_ Sim.
_ Você desmaiou quando eu saí e bateu a cabeça. Ficou um tempo
no chão, pois Marie não podia te levantar. Quando voltei te coloquei na cama e
achei melhor deixá-la dormir. Mas você não lembrava de nada quando acordou, então
fui perguntar ao Dr. Austin como poderia ajudá-la, pois é raro e não estudamos
sobre isso. Que bom que está bem. Não me dê mais sustos por hoje tudo bem?
_ Tudo bem.
_ Hoje foi um longo dia, pensei que não fosse acabar. E essa
chuva está me deixando louco.
_ É verdade. Esteve tão escuro o dia todo.
_ Sei que não faz muito tempo que acordou, mas deveria tentar
dormir. E você também Marie. Eu ficarei aqui esta noite.
_ Obrigada Born, você tem sido muito generoso conosco.
_ Imagina Layla. É meu dever cuidar de vocês. Agora durma.
Amanhã Marie assinará os documentos pela manhã e partirá à tarde.
_ Dormir eu não consegui, mas fiz planos, orações, pedi
proteção. Eu ficaria sozinha até Born voltar. Scott não iria me proteger.
Estava criando ilusões sem me dar conta. Achava que poderia cuidar do meu
futuro e não ter que escolher um companheiro era parte disso.
Fiz muitos planos durante a noite. A maioria como livrar-me de
Scott sem causar sua ira. Ele sabe onde moro e poderia ir até lá quando
quisesse para atormentar-me.
Minhas orações envolviam muito além de proteção. Lembrei de
meus pais e como essa bagunça me fez esquecê-los por tanto tempo. Sentia-me
culpada. Se não tivesse corrido pelos cantos, talvez agora estivesse junto de
meus pais. Não teria conhecido Scott ou Born, mas por outro lado Marie estaria
morta também.
Foi pensando em Marie que consegui dormir um pouco.
_ Estava claro quando acordei, demorei muito para dormir, então
acordei mais tarde do que pretendia.
Marie não estava no quarto e achei estranho me deixar sozinha.
Conferi a porta. Trancada. Arrumaria minha cama e não ficaria o dia todo neste
quarto.
Estava escolhendo um vestido bem elegante para sair quando
ouvi o barulho das chaves na porta.
_ Layla. Acordou finalmente.
_ Sim e preciso muito dar uma saída.
_ Pra onde vai?
_ Só quero ir ao toalete Marie.
_ Não consegui evitar, e ri da expressão que ela fez. Era bom
ser eu novamente.
_ Tudo bem. Sei que já sou espantada por natureza, mas não
precisa rir assim.
_ Desculpe Marie, mas é que acordei feliz depois de muito
tempo. Então, desculpe. Acompanha-me?
_ Sim. Depois vou arrumar minhas malas. Tem certeza de que quer
que eu vá?
_ Tenho sim. Eu ficarei menos tensa com você em segurança.
_ Fomos ao toalete. Levei alguns pertences para tomar um belo
banho. Não quis contar que fugiria se alguém não me levasse para passear. Ela
iria embora, então, por que preocupá-la?
A manhã passou e chegou o momento de Marie partir. Born a
buscou e não disse nada para mim a não ser “até mais”.
Scott não apareceu conforme o combinado e comecei a me
preocupar. No fundo eu sabia que corria perigo e não queria ficar sozinha.
Porém, eu já sabia que ele não apareceria.
Algumas horas se passaram e logo seria noite outra vez. O dia
estava bonito e eu não consegui sair.
_ Layla. Estou de volta.
_ Born? Mas você disse que ia levar Marie.
_ Eu sei, não brigue comigo. Scott insistiu que o deixasse
levar.
_ Scott foi com ela?
_ Sinto muito Layla. Não queria ter que lhe contar, mas sei que
ele não terá coragem.
_ Contar o quê?
_ A tia dele, Sra. Amélia, não o deixou ficar aqui com você e
então ele fugiu dela. E foi levar Marie em meu lugar. Disse-me que precisava
respirar e pensar longe dela. Ele disse que para o seu bem, ele está desistindo
de você.
_ Born, eu...
_ Sei que gosta dele, principalmente porque ele a beijou,
então, não precisa se explicar.
_ Espera. Como sabe sobre o beijo?
_ Ele me disse que te beijou e que você correspondeu.
_ Born, aquele foi meu primeiro beijo.
_ Vai dizer que nunca...
_ Não. Eu nunca havia beijado ninguém. Não sabia nem como agir.
Deixei acontecer por curiosidade. Sei que isso me
faz parecer leviana e eu não deveria estar contando isso ao homem que tenho
intenções mais sérias. Desculpe-me...
_ Disse que quer algo mais sério comigo?
_ Born. Eu não deveria ter dito nada ainda. Pensei sobre isso
ontem enquanto não conseguia dormir e hoje tomei a decisão que precisava. Tenho
que ser sincera comigo mesmo e não é pelo Scott que meu coração bate
descompassado.
_ Layla, eu nunca quis te forçar a tomar essa decisão. Tive
medo de não ser o escolhido.
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